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Friday, December 16, 2005

Monstro Imbatível


10/01/2003
Lázaro Ramos começa a surgir. Revelado no Bando de Teatro do Olodum, Ramos ganhou local de destaque na cinematografia brasileira este ano ao participar de vários filmes. As Três Marias, de Aluísio Abranches, Madame Satã, de Karin Aïnouz, O Homem que Copiava, de Jorge Furtado, O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca e Carandiru, de Hector Babenco prometem transformar Ramos em estrela. Alguns deles ainda não estreiaram. Outrossão sucesso de crítica.
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Madame Satã, o primeiro filme protagonizado pelo ator, revelou ao mundo e ao Brasil seu talento. Ao encarnar com vigor e paixão o marginal João Francisco dos Santos, Ramos se transformou em um monstro imbatível. Elogiado e aplaudido em diversos festivais, o ator promete revolucionar o cinema nacional com talento e juventude.
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Dono de uma fala tranqüila e de voz marcante, Ramos é um privilegiado. Formado em um grupo de atores negros, o Bando de Teatro do Olodum, ele diz nunca ter sofrido discriminação. Já interpretou Sancho Pança no teatro e recentemente participou da mini-série Pastores da Noite, da Rede Globo.
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Mas Ramos sabe que esta realidade não é a todos. Sua vida difere da maioria dos atores negros do país. Consciente da falta de bons papéis para negros, Ramos reinvindica maior compromisso dos diretores de elenco e dos autores, defende a diversidade e quer profundidade. Nesta entrevista o ator fala sobre sua carreira eexpõe sua visão sobre a mídia brasileira. (TPR)
.LÁZARO RAMOS - Entrevista realizada em 20/12/2002 - Por Thiago P. Ribeiro
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Cinemando - Como são os papéis escritos para negros, na TV e cinema no Brasil?
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Teve uma evolução desde que comecei a fazer e estudar teatro. Uma evolução que é real, mas que é insuficiente, porque a quantidade de negros que nós temos na sociedade e não está na TV. Acho que a TV devia representar essa diversidade que nós somos. Nós somos brasileiros, temos tanta diversidade e não somos representados na TV. Insistentemente temos um problema de não inserção na dramaturgia. Os personagens não estão ali para contar, só para ser objeto de cena, não tem vida, não tem história para contar, ou então são personagens marginalizados. Eu acho que a dramaturgia devia se apropriar mais aos personagens, dar oportunidade para os atores contar as histórias. Isso ainda falta.
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Faltam papéis mais profundos, algo que fuja dos esteriótipos?
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Mais profundos, em maior quantidade e para ficar perfeito, tinha que ter de tudo. Em primeiro lugar, tinha que contar muito mais a nossa história, porque com certeza essa renovação que o cinema está sofrendo é porque se apropriou das histórias dos negros, das histórias não-oficiais, que não são contadas e que vêm sendo contadas com verdade e propriedade. Ao mesmo tempo tínhamos que contar histórias que servissem como auto-estima para o negro, colocar o negro com papéis melhores, com papel de advogado, médico, empresário, porque isto existe e ajuda na auto-estima.
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Eu acho que tinha que ter uma abertura maior, não tem muito regra. é preciso discutir muito mais a questão e aumentar a quantidade e aqualidade.
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Filmes como Cidade de Deus, mostrando garotos negros no papel de marginais, matando uns aos outros prejudicam a imagem do negro? Esta estigmatização da imagem do negro como marginal pode causar algum dano, principalmente na cabeça da juventude negra do país?
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É tão difícil falar isso! Eu acho que não. Eu acho que tem que ter espaço pra tudo. Não pode ter só isso, não pode ser só Cidade de Deus, mas eu acho que também é uma realidade que existe e precisa ser falada. Mas o que eu acho que falta na gente é diversidade. Se temos só Cidade de Deus para representar isso pode ser prejudicial sim, mas se temos uma diversidade, se temos Cidade de Deus, se temos Madame Satã, que já aborda um personagem complexo, se temos Uma Onda no Ar, do Helvécio Ratton, que éum filme espetacular porque mostra uma alternativa e mostra uma outra forma de encarar o fato e temos O Homem que Copiava, do Jorge Furtado, que eu protagonizo e que fala sobre uma adolescência e suas perspectivas, isso muda. Eu acho que tem que ter espaço para tudo.
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Você sofreu algum tipo de preconceito na sua vida profissional?
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Eu conheço essa realidade, mas eu tenho um histórico muito específico. Comecei minha carreira no Bando de Teatro Olodum, que é um grupo somente com atores negros, fazendo bons personagens, dando certo em Salvador e passei minha vida toda lá. Eu vim para o mundo no ano de 2000, quando eu saí do Bando. Vim pra fazer A Máquina, que foi um espetáculo de muito sucesso, de João Falcão e depois disso fui convidado para fazer diversos filmes.
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Não sofri com isso, mas conheço essa realidade difícil, do ator negro que não tem bons papéis, que não tem muitos convites. É um problema real e muito duro.
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Falta uma certa união, grupos como o que você participou, iniciativas para unir e dar oportunidades, não só aos negros mas também aos marginalizados da mídia?
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Tudo que eu for te responder não vai ser definitivo, porque eu sempre acho que tem ter espaço para tudo. Tem que ter espaço para isso se isso é fundamental. Eu sou o ator que sou porque pude me exercitar no Bando de Teatro Olodum, fazendo personagens que talvez não fizesse em outros lugares. Fiz Sancho Pança. Em nenhum outro elenco eu seria escolhido pra fazer esse personagem. O grupo foi essencial para dar capacitação mostrar o mercado de trabalho.
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Mas acho também que ao mesmo tempo tem que ter uma consciência, por exemplo, de um produtor de elenco, que na hora de escalar o elenco só escala um ator negro quanto tem escrito a rubrica ator negro. Ou então quando escala o ator negro apenas quando é papel de marginal. Eu acho que tem que ter uma abertura na cabeça dos produtores de elenco. Acho que tem que ter uma abertura na cabeça dos dramaturgos, dos autores de novela, dos roteiristas de cinema e inserir dramaturgicamente esses atores negros.
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Acho que é uma mudança geral na sociedade. Acho que tem que ter uma conscientização do mercado de publicidade de que nós somosconsumidores e queremos nos ver espelhados, afinal de contas eu também uso manteiga e quero ver comercial de manteiga com negro. Acho que é lógico, é natural. Se eu me identificar com aquele produto, vendo uma pessoa que parece comigo, eu também vou querer usar aquele produto. É uma questão de consumo.
Tanta coisa que precisa mudar. Acho que tem que ter cota sim! É uma pena eu achar isso, mas os mecanismos de mudança são muito lentos.
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Seria um mal necessário?
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Um mal necessário, porque os mecanismos para essa mudança não tem se mostrado dispostos. Eu não vejo autores de novelas se disponibilizarem a inserir dramaturgicamente o negro. Não vejo bons papéis escritos para negros para que isso aconteça. Não esta acontecendo e essa imposição vai ser necessária sim. Não eternamente, mas acho que vai precisar por um período.
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Quando estréia O Homem que Copiava?
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Estréia em fevereiro fora do Brasil e no Brasil acho que em abril.
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Qual é a história do filme?
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Na verdade, o filme é uma grande discussão sobre a perspectiva dobrasileiro hoje. O Homem que Copiava é a história de um adolescente tímido, o meu personagem, chamado André, que se apaixona por uma outra menina, mas nunca tem coragem de chegar pra ela e dizer isso. Ele começa então a seguir a garota e tenta conquistar o amor dela. O André é um garoto que antigamente pensava assim: "Pôxa, eu queria ser muito famoso, queria ser um ator famoso, queria ser um jogador de futebol famoso", mas que muda sua opinião e que hoje em dia só quer ser rico, muito rico.
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O filme para mim é sobre este tempo do controle remoto, sabe? A gente pega a televisão e vai mudando o canal. A gente não tem as informações por completo. A gente vai na internet, pesquisa um pouquinho e não aprofunda as coisas. O filme retrata esse tempo fugaz. E é uma comédia, apesar de falar de um assunto tão sério.
Fonte: Cinemando

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