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Cabaré da Rrrrraça

Sunday, March 06, 2016

Lázaro Ramos fala sobre volta do Espelho, racismo, Oscar e internet

Programa do ator baiano, Espelho estreia nova temporada hoje, às 21h30, no Canal Brasil

Laura Fernandes (laura.fernandes@redebahia.com.br)
Atualizado em 06/03/2016
De frente com a jornalista e apresentadora paulista Marília Gabriela, 67 anos, o ator baiano Lázaro Ramos, 37, inverte os papéis. Com a câmera na mão, apontada para ela, Lázaro provoca um bate-papo descontraído, que passeia por temas diversos e até polêmicos. Questões enfrentadas pelas mulheres e a “caretice” do Brasil são apenas alguns.
Tudo isso vai ao ar amanhã, às 21h30, no Canal Brasil, quando Lázaro estreia a 11ª temporada do seu programa Espelho. O rapper Emicida, a cineasta Anna Muylaert e os atores Selton Mello e Bruno Mazzeo estão entre os próximos convidados da série, que ganha novos diretores: Renato de Paula e Elísio Lopes Jr. 
O ator baiano Lázaro Ramos estreia, amanhã, às 21h30, no Canal Brasil, a 11ª temporada de Espelho 
que reúne nomes como Emicida e Senton Mello
 (Foto: Divulgação)
Protagonista de Mr. Brau, que tem nova temporada prevista para abril; em cartaz no teatro como o ativista americano Martin  Luther King (1929- 1968); e prestes a estrear no filme Mundo Cão, dia 17, Lázaro bate um papo franco com o CORREIO. Entre os temas, estão a volta do Espelho, de Mr. Brau, seu primeiro “vilão” no cinema e a negritude, além da necessidade de revisão do Oscar e de uma cartilha de boa conduta na internet. Confira.
Como foi conversar com Marília Gabriela, uma figura tão forte como entrevistadora e que agora está no papel inverso?
Desde que comecei a fazer entrevista, sempre achei que devia convidar algum grande entrevistador, que eu admirasse. Convidamos ela quatro vezes, mas sempre estava entrevistando e não podia. Esse ano foi bom, acho que eu estava mais confortável no papel de entrevistador e ela está num momento muito bom, falando de sentimentos, morte, família. Marília simboliza um jeito de entrevista, descontraído, que gostaria para o Espelho. Não tem programas que fazem uma pré-entrevista com o convidado, antes de ir ao ar? Decidi que o Espelho será a pré-entrevista: o que parece erro, não é erro. Tem que ser exibido. Cada vez mais próximo do espectador.
Na entrevista, Marília Gabriela diz que “o Brasil está bem mais careta”. Você concorda?
Existe um movimento de encaretar a sociedade, sim, mas por outro lado, hoje em dia as ideias podem ser difundidas através de outros meios.  Estou falando, especificamente, da internet. Isso faz com que todas as vozes sejam ampliadas, desde as mais caretas às menos... Não sei o que acontece que, depois de vários avanços em prol da diversidade, existe outro movimento que quer manter as coisas no lugar. Isso me preocupa. 
Marília Gabriela está na estreia da temporada 2016 de Espelho, no Canal Brasil, às 21h30
(Foto: Caue Porto/Divulgação)
O que a 11ª temporada de Espelho traz de diferente em relação às anteriores?
A cada temporada a gente tenta se reinventar. Essa técnica de eu operar a câmera, por exemplo, começou ano passado e deu muito certo. Nessa temporada, temos uma campanha: a mulher nos postos de comando e formação de opinião. Durante cinco programas, eu não apresento, quem é dona do Espelho é a (jornalista) Flávia Oliveira, para trazer à tona essa discussão.
Espelho era mais focado na negritude e cada vez mais abrange os temas. Por que a mudança?
Os valores que a gente vai adquirindo no Espelho, a gente não exclui, só vai agregando. A proposta continua sendo dar visibilidade ao pensamento negro e falar na televisão de assuntos pouco falados. Mas a questão negra se movimenta e o Espelho se propõe a caminhar junto. As mulheres negras, as blogueiras negras, o movimento feminista negro têm papel fundamental na sociedade. É importante entender que negritude não é tema, é mais amplo que isso.
Qual é a importância de um programa como Espelho?
São 11 anos de sucesso, em que Espelho mapeou questões raciais. Ele tem uma voz que todo mundo que assiste se sente parte do problema e da solução. A ideia é aproximar as pessoas das questões, nunca afastar. A novidade desse ano é que estou só apresentando, a direção agora é de Elísio Lopes Jr. e Renato de Paula. Para mim foi um alívio, porque estava doido pra sair (risos)! Na verdade, nunca deixei a direção completamente porque tem valores que defendo. Mas agora passei o bastão para eles.
Ao lado de Taís Araújo, você atua em diferentes frentes: teatro, novela, cinema... Acha que essas linguagens bem diversas contribuem, de alguma forma, com a discussão sobre o racismo?
Claro que contribuem. E fiquei muito feliz porque, em 2015, pude atuar em um universo pop que é o Mr. Brau, uma série popular, bem-humorada. Ao mesmo tempo, pude viver Martin Luther King no teatro, importante líder político, e agora voltar com um programa reflexivo como Espelho. A gente pode falar em vários tons sobre essa questão. Todos fazem parte de um mesmo objetivo que é buscar um mundo mais justo para todos nós. A aceitação de que a gente é mais do que apenas um tom é muito importante. Por causa da popularidade do Mr. Brau, conseguimos atrair um público jovem que talvez não estivesse aberto a isso. Não importa se é dona de casa, adolescente... Mr. Brau fala com humor de uma família que a TV brasileira não tinha falado ainda, de uma família negra, de pessoas que ascenderam e têm orgulho de ser quem são. 
Ao lado da atriz e esposa Taís Araújo, Lázaro protagoniza da série Mr. Brau, confirmada para uma segunda temporada pela Rede Globo (Foto: TV Globo/Divulgação)
Você e Taís estiveram no Carnaval de Salvador, em fevereiro, para gravar cenas da série Mr. Brau. O que pode adiantar da nova temporada?
A série volta a reforçar a autoestima e o humor ágil. Esse ano, estamos cheios de participações e com 18 episódios: cinco a mais que o ano passado. Nessa temporada, a gente está tratando a música como música. As pessoas gostaram tanto com esse universo que resolvemos investir nisso. Teremos shows com plateia de verdade. A parte musical foi muito bem-sucedida.
Ao contrário do carismático Brau, você enfrenta o desafio de viver um psicopata no filme Mundo Cão. Como foi o processo?
Primeira vez que tive coragem de pegar um personagem assim. Já tinha sido convidado várias vezes para fazer personagens com vilania, mas neguei porque não me identifiquei ou porque não achava que estava na hora certa da carreira para fazer isso. Mas o filme é de um roteirista que gosto muito, Marcos Jorge, que fez Estômago. Quando li, me interessei porque  tem virada de história a cada 15 minutos e o filme traz uma discussão interessante que é a justiça com as próprias mãos. Encontrei um personagem que poderia deixar um pouco mais complexo. Ele faz muita coisa errada, é impulsivo (coisa que não sou), mas é movido por uma paixão muito forte. Me desafiei e fiquei feliz com o resultado.
Diante da internet, onde cada um fala o que quer, como lida com essa superexposição?
Quanto mais o tempo passa, mais tenho aprendido a lidar. Existe uma cartilha de boa conduta na internet que a gente ainda não tem. Não aprendemos a lidar muito bem com ela. Penso duas, três vezes antes de postar alguma coisa. Sei que sou formador de opinião e não quero ser uma pessoa que sai vomitando coisas sem saber o que falar. Vejo pessoas que vão tropegamente se suicidando. Não lido bem com esse suicídio.
Recentemente você postou em suas redes sociais o discurso de Chris Rock, no Oscar. O que acha da discussão sobre a falta de negros indicados permear a cerimônia do Oscar, este ano? É hora de uma revisão?
A revisão do Oscar já passa do tempo, né? Como você pode trabalhar com o cinema, tão diverso, e nos membros da comissão você ter um perfil basicamente de homens brancos? Cadê as mulheres negras? Os homens latino-americanos? Acho que o mundo é mais legal quanto mais diverso for. As discussões ficam mais equilibradas, mais justas, mas ricas. Apesar de Chris Rock ter tirado sarro, ele chegou na frente da plateia branca e falou que Hollywood é racista. Essa liberdade de chegar numa cerimônia daquele jeito, achei muito legal. O ponto que discordo é quando ele dá uma desmerecida no protesto. Mas as vozes de discordância são importantes pra gente ter um mundo mais equilibrado. É uma discussão que não se encerra no Oscar.

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