Anuncie Bate-papo Coberturas Home Real Player Windows Media Player Winamp AAC Cabaré da Rrrrraça: December 2005

Cabaré da Rrrrraça

Friday, December 16, 2005

Lázaro Ramos sucesso absoluto

POR TÂNIA ANGARANI
Em tempo recorde, ele soma quatro elogiados filmes, dezenas de prêmios, uma minissérie e um quadro no Fantástico. Agora se prepara para voltar à telona e, quem sabe, se casar com Taís Araújo.
.
Aos 26 anos, o baiano Lázaro Ramos está muito bem instalado no topo da lista dos melhores atores do Brasil. Se o talento é inato (não se tem notícia de outro ator na família), a elegância e a educação que mostra a cada gesto e palavra, e a auto-estima inabalável são heranças da mãe, Célia, a mais forte figura feminina da vida dele. "Cresci ouvindo ela dizer que eu era lindo e inteligente", diz Lázaro, que hoje só tem uma tristeza: não ter Célia como espectadora do sucesso dele. Ela morreu há cinco anos, vítima de uma doença rara.
.
O rapaz, que no momento apresenta o quadro Instinto Humano, do Fantástico, tem no currículo nada menos que quatro grandes sucessos de bilheteria no cinema (Madame Satã, O Homem que Copiava, Carandiru e Meu Tio Matou um Cara), uma minissérie (Pastores da Noite), um seriado de humor (Sexo Frágil) e duas peças (A Máquina e As Três Marias). E uma dezena de prêmios pela atuação neles. Nada mau para quem estreou frente às câmeras há quase cinco anos. Logo, estará de volta à telona em Cafundó e Cidade Baixa; e em outra minissérie da Globo: Carandiru - adaptação para a TV do filme no qual vive o surfista doidão que interpretou no cinema.
.
O desempenho arrebatador que imprime a cada personagem, a sinceridade cortante, o charme e modos de príncipe fazem de Lázaro um dos atores mais adoráveis da sua geração. O que mostra que Taís Araújo, a namorada e aparentemente a futura mulher, não pode reclamar da vida.
.
Lázaro recebeu a reportagem de Raça Brasil no hotel em que se hospedou em São Paulo durante as filmagens da nova minissérie e abriu o coração.
.
Raça Brasil - Como a carreira de ator surgiu na sua vida?
Lázaro Ramos - Foi por mero acaso. Os colegas do grupo de teatro da minha escola viviam falando do Bando de Teatro Olodum, formado por atores negros. Um dia fui com eles assistir a uma peça e adorei! Ficamos sabendo que o Bando buscava novos atores e, no dia seguinte, voltei com cinco amigos para fazer o teste. Fui o único aprovado. Como tinha só 15 anos, acabei transferido para outro grupo, porque o Bando só aceitava adultos. Mas tanto insisti, que acabei aceito pela turma mais velha. Me apaixonei pelo trabalho porque percebi a importância histórica do grupo, pelo assunto que tratava nos espetáculos e pela repercussão. Por ter entrado tão cedo na minha vida, o Bando formou minha personalidade e me deu a oportunidade de aprender a profissão pela qual me apaixonei. Foi uma coisa muito legal, até porque eu era tímido e perdi a timidez no palco.
.
"O maior patrimônio que minha mãe me deixou foi a alegria. Ela perdeu a capacidade de andar e nunca perdeu o humor. Graças a ela, procuro levar comigo a mensagem de que nada é impossível"
.
Raça - Antes você foi técnico de laboratório de análises clínicas...
Lázaro - Quando terminei a 8ª série, o colégio montou um curso de Teatro, mas só podia freqüentá-lo quem estudava lá. O colegial era profissionalizante - tinha cursos de Desenho e Patologia -, como não sei desenhar, optei por Patologia. E acabei gostando da profissão, contribuiu para conseguir dinheiro para ajudar em casa. Naquela época, minha mãe [Célia] foi acometida por uma rara doença degenerativa, que lhe roubou os movimentos, aos poucos, até tirá-los de vez. Por mais que recebesse auxílio dos irmãos e de meu pai, de quem se separou quando eu era pequeno, me senti na obrigação de ajudar a sustentar a casa. Sou filho único e eu e minha mãe sempre tivemos uma relação próxima. A alegria dela e a minha estavam absolutamente ligadas; ela era muito feliz estando perto de mim e eu era muito feliz estando perto dela.
.
Raça - Sua mãe não teve tempo de acompanhar seu sucesso como ator...
Lázaro - Não... Quando ela morreu, há cinco anos, meio que tudo perdeu o sentido para mim. Porque tudo o que eu fazia era para ela, para ela ficar feliz. O maior patrimônio que minha mãe me deixou foi a alegria. Ela perdeu a capacidade de andar e nunca ficou triste ou perdeu o humor. Sempre ofereceu um sorriso a todos que iam visitá-la. Graças a ela, procuro levar comigo a mensagem de que nada é difícil. Célia, que teve todos os motivos para se abater, nunca se entregou, não tenho motivo para me abater.
.
Raça - Além da alegria e do otimismo, o que mais você herdou dela?
Lázaro - Minha mãe é uma memória muito positiva na minha vida. Era uma mulher muito carinhosa, acho que muito de minha personalidade tranqüila e carinhosa vem dela. Ela era empregada doméstica e trabalhava muito, sem se queixar e sempre querendo trabalhar mais. Como admirei muito minha mãe, procuro sempre respeitar e valorizar as mulheres.
.
Raça - Taís Araújo tem sorte! Como é que vocês se conheceram?
Lázaro - Desculpe, mas a gente não gosta de falar dessas coisas.
.
Raça - Mas há quem diga que vocês estão de casamento marcado...
Lázaro - Será? Tomara que sim [risos]! Bom, deixa eu falar da Taís: ela é uma mulher admirável, que sempre admirei de longe pelo trabalho, postura, beleza. Antes de qualquer coisa, sou um admirador da Taís, da profissional que é, da pessoa responsável, da pessoa que está sempre querendo aprender. E quero estar sempre ao lado dela... profissionalmente. É a mulher certa.
.
Raça - Você é romântico?
Lázaro - Sou. Não tenho vergonha de demonstrar carinho. Não só com namorada, mas com as pessoas que gosto. Não tenho vergonha de dizer que amo Wagner Moura [ator de Sexo Frágil], meu melhor amigo. Minha afetividade não é escondida; está aqui para ser distribuída.
.
Raça - Você não gosta de mostrar sua vida na mídia. Como consegue manterse longe da exposição?
Lázaro - Ainda estou aprendendo. Quando eu e Taís começamos a namorar, tivemos de divulgar alguma coisa. Agora, quanto mais o tempo passa, mais procuro me preservar, estar onde realmente é necessário, na Raça, por exemplo, porque para o leitor dessa revista é importante ler essas coisas aqui que estamos conversando. Eu e Taís não falamos nada sobre a gente. Primeiro porque não tenho habilidade para expor minha vida pessoal. Segundo porque não acho legal, acho que muito mais importante do que nossa intimidade é a nossa história como profissional. Terceiro porque não me expor é o que faz com que eu saiba quem sou; vivo a vida de tantos personagens, que, se não preservar alguma coisa minha, posso virar um personagem e minha vida, uma novela.
.
Raça - Será que não corre o risco de ganhar o rótulo de antipático?
Lázaro - Não é impossível. Mas acho que sou um cara legal, um cara simpático, e, com o tempo, a imprensa vai compreender e respeitar isso. Acho que, se você age com agressividade, recebe o mesmo de volta. Não vou dizer que não me irrito nunca. Por exemplo, quando eu e Taís começamos a namorar, tinha paparazzo na porta de casa, o que é uma coisa que irrita. Mas quero conquistar o que tenho que conquistar; que as pessoas entendam que eu quero é falar da minha profissão. É uma coisa da qual não vou abrir mão.
.
Raça - Hoje as pessoas pedem autógrafo e falam com você na rua. Como é lidar com esse assédio?
Lázaro - Tento agir normalmente, faço piadas e converso. Claro que já teve dia de eu estar triste, andando no shopping e as pessoas virem falar comigo. Aí percebo que estou no lugar errado e procuro outro. Mas é o preço, né? Quando você faz televisão e cinema, a curiosidade é inevitável. Também tento não me deslumbrar com o assédio, sei que pode ser passageiro. Quando tiver meus 102 anos, espero viver até lá, vou descobrir que o que ficou mesmo não foi a fama, e, sim, o trabalho.
.
Raça - Se deixar o sucesso sobe à cabeça, não é?
Lázaro - Você pode se achar o máximo e, na verdade, não é assim. Ator deve continuar sendo ator, não pode virar celebridade. Ator deve continuar com o pé no chão. Manter-se humilde.
.
Raça - Nesse caso específico o que é manter-se humilde?
Lázaro - É procurar manter as mesmas amizades, manter os mesmos princípios, saber de onde veio, ter consciência de que você está nessa profissão não pelo glamour, mas para passar uma mensagem. É nisso que acredito. É claro que tenho meus dias de mau humor, mas procuro ser educado com as pessoas.
.
Raça - Como é sua relação com os fãs negros? Eles falam muito com você?
Lázaro - Está aí uma coisa de que me orgulho. A galera tem muito orgulho de mim, me trata muito bem, acha que estou no caminho certo. E às vezes me dá um puxão de orelha por uma coisa que eu disse e que foi mal entendida. Mas é muito bom saber que sirvo de exemplo de auto-estima.
.
Raça - Você já foi alvo de racismo?
Lázaro - Várias vezes em Salvador, por policiais que sempre têm uma abordagem diferente para o cidadão negro. Para mim isso é racismo quando você está ali para proteger a sociedade e trata o cidadão branco diferente do negro. Já fui muito maltratado.
.
"O Bando de Teatro do Olodum me deu consciência e me ensinou a lidar com as situações de racismo. A gente precisa ser treinado para lidar com ele e estar com a auto-estima lá em cima para enfrentá-lo".
.
Raça - Maltratado como?
Lázaro - A polícia pára um ônibus e, na hora da revista, só exige que desçam os negões. Mas o Bando de Teatro do Olodum me deu uma consciência e me ensinou a lidar com isso. Uma noite, ao tirar dinheiro em um caixa 24 horas, em Salvador, fui abordado por policiais que perguntavam o que eu estava fazendo ali. Com o argumento na ponta da língua, revidei: "Por que você está me perguntando isso? Vim tirar o meu dinheiro no meu banco. Por que você me parou?" Sem graça, o policial respondeu: "Sei lá, você é um tipo suspeito, de boné". Resultado: fiquei um tempão conversando com o cara e ele acabou me pedindo desculpas. Infelizmente a gente precisa ser treinado para lidar com o racismo. Primeiro tem que estar com a auto-estima lá em cima, porque do contrário você se sente menosprezado, e depois tem de ter argumento, né?
.
Raça - Quais seus atores preferidos?
Lázaro- Geralmente reverencio um ator que está ligado ao bom ser humano, acredito que uma pessoa só pode ser um bom ator se for bom ser humano, ou se tem alguma coisa que me inspira. Não consigo me centrar em um, tenho vários: Milton Gonçalves, pela qualidade de ator e o posicionamento político, que é importantíssimo; Zé Dumont, que, para mim, é o melhor ator de cinema do Brasil. Pedro Cardoso é um ator que eu admiro porque ele faz um humor sofisticado com uma mensagem muito consciente. Quando contracenei com Fernanda Montenegro, em Pastores da Noite, fiquei encantado pela pessoa e pela qualidade de atriz que é. Adoraria contracenar com Léa Garcia. E também com Taís Araújo, minha namorada, porque admiro muito o trabalho que faz.
.

Lázaro Ramos: Ator é barrado nos EUA

Mesmo com visto, a imigração norte-americana barra sua entrada no país pela terceira vez
.
São Paulo - Considerado um dos melhores atores de sua geração, o global Lázaro Ramos passou por apuros no mês passado, quando tentou entrar nos EUA para gravar o último episódio da série Cinco Sentidos, exibido domingo 25 no Fantástico. Ao chegar ao Aeroporto de Miami, o astro foi barrado pela imigração norte-americana. Apesar de ter obtido o visto “L” em seu passaporte, concedido a jornalistas estrangeiros, o namorado da musa Taís Araújo foi interrogado, sendo que outro repórter - ironicamente, um rapaz branco - que o acompanhava acabou liberado rapidamente e não teve nenhum problema com as autoridades.
.
Ramos ficou aproximadamente 40 minutos preso em uma sala e só conseguiu a liberação porque a companhia aérea Varig interveio. Em seguida, deixou o local sem dar maiores explicações. “Nas outras três vezes em que fui aos EUA, passei pela mesma situação. Fazer o quê?”, conformou-se o artista.
.
Susto
Enquanto isso, no Brasil, era a atriz Pepita Rodrigues (a Diva de A Lua me Disse) quem enfrentava uma situação difícil. No último dia 19, o automóvel dirigido por seu marido foi fechado por bandidos na Linha Vermelha, uma das vias mais violentas do Rio de Janeiro. Motoristas que vinham atrás e presenciaram a cena se assustaram; um deles perdeu o controle e bateu na lateral do carro de Pepita. Na confusão, os assaltantes fugiram.
.
“Na hora em que aqueles homens frearam, senti que havia algo errado. Quando vi as armas, só tive tempo de pedir para minha neta se abaixar. Meu marido parou e eles vieram para cima”, conta a estrela, indignada com a falta de policiamento no local. “A sensação é de completo abandono. Isso precisa mudar!”
.
Fonte: Tudo Bem

Outra Bahia

( Da esquerda para a direita, Wagner Moura, Alice Braga e Lázaro Ramos: protagonistas de uma narrativa em que não há cenas supérfluas. Foto Divulgação)

Em Cidade Baixa, o romantismo à Jorge Amado cede lugar para um lirismo social que recusa o exótico
.
Por José Geraldo Couto
Começa a chegar às telas neste mês uma vigorosa safra de filmes vindos do Nordeste. Aos baianos Cidade Baixa, de Sérgio Machado, Esses Moços, de José Araripe, e Eu me Lembro, de Edgar Navarro (em finalização), juntam-se os pernambucanos Cinema, Aspirina e Urubus, de Marcelo Gomes, e Árido Movie, de Lírio Ferreira, para configurar uma invasão renovadora que não se via desde a fase heróica do Cinema Novo, nos anos 60.
.
Talvez o caso mais emblemático dessa infusão de vitalidade num cinema brasileiro hoje perigosamente inclinado para a esclerose criativa seja o de Cidade Baixa, pelo frescor e pelo ângulo original com que aborda um tema tão antigo quanto a própria arte: o da amizade masculina abalada pela chegada de uma mulher. Trata-se, para ficar apenas em célebres exemplos contemporâneos, do argumento do conto de Jorge Luis Borges A Intrusa (filmado por Carlos Hugo Christensen) e do filme de François Truffaut Jules e Jim (baseado em romance de HP Roché).
.
No longa de Machado, o instável e tenso triângulo se forma já na primeira cena. Numa cidade litorânea baiana, uma garota, Karina (Alice Braga), pede a dois barqueiros, Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura), carona até Salvador, onde ela tentará viver como dançarina e prostituta. Eles acertam o preço, incluindo o “extra” (Karina terá de fazer sexo com os dois). Estão dados, em escassos minutos, os elementos que o cineasta vai trabalhar, com energia e rigor, ao longo de todo o filme: a amizade, o desejo e, tão importante quanto eles, a necessidade.
.
À narrativa substantiva de Cidade Baixa, em que não há cenas frouxas, diálogos jogados fora ou imagens ornamentais, corresponde seu lirismo isento de romantismo e de mistificação. Os personagens se movem num terreno muito concreto, limitado por uma penúria material que os empurra de quando em quando para as fronteiras do crime. Mas nenhum é mera peça de uma engrenagem histórica e social: são seres plenos de impulsos anímicos (nem sempre conscientes) e dilemas morais. De vida, em suma.
.
O modo como o ambiente físico e o contexto social aparecem no filme e interagem com o drama de seus personagens impressiona pela sutileza e pela concisão. Não há aqui aquele vício tão difundido em certo cinema brasileiro de colocar a “cor local” à frente e acima da história que se quer contar. Estamos nos bairros pobres de Salvador, mas sem o realce exótico-turístico do Pelourinho, dos batuques e dos acarajés. Não há, embutida nas imagens, aquela ideologia de uma sorridente integração nacional que encontramos nos quadros do Fantástico, nos comerciais do governo ou em tantos filmes da família Barreto.
.
O ambiente, em Cidade Baixa, não é adorno, é limite, enquadramento, tanto no sentido físico como psicológico e moral. Nisso, lembra outro grande filme brasileiro recente, Madame Satã, do cearense Karim Aïnouz, em que a velha Lapa carioca despe-se de leituras pitorescas para se apresentar como um conjunto de becos escuros e ameaçadores. Em ambos os filmes, as contradições sociais e raciais do país se traduzem em histórias e personagens singulares. Não por acaso, Aïnouz participou da produção e do roteiro de Cidade Baixa. Não por acaso, também, ambos os filmes são estrelados pelo extraordinário Lázaro Ramos.
.
Mais duas coisas, entre tantas, chamam a atenção no longa. Uma delas é a manutenção do foco nos personagens e na tensão latente entre eles, transfigurada ou sublimada ocasionalmente em outras formas de violência: a briga de galos, a luta de boxe, um assalto e até mesmo o sexo.
.
Outra característica admirável é a maneira como toda uma teia complexa de relações sociais é sugerida com o mínimo de recursos. Por exemplo: o personagem Dois Mundos (nome maravilhoso, que parece saído de um romance de Jorge Amado) é ao mesmo tempo um comerciante que contrata fretes e um agenciador de pequenos crimes. Tudo isso é mostrado numa única e rápida cena, quando, depois de negar trabalho a Deco, ele levanta a camisa e mostra-lhe a pistola que traz na cintura e que pode ser usada para um “serviço”. Na falta de emprego, Dois Mundos oferece outra via de sobrevivência.
.
Já que mencionamos Jorge Amado, cabe lembrar uma circunstância fortuita mas significativa: a jovem atriz Alice Braga, vértice feminino do triângulo de Cidade Baixa, é sobrinha de Sônia Braga, o que nos sugere uma comparação subterrânea entre as bamboleantes personagens amadianas vividas pela tia (Dona Flor, Gabriela, Tieta) e a mais esquiva, contraditória e cheia de arestas dançarina-prostituta, interpretada com bravura pela sobrinha.
.
De Dona Flor a Cidade Baixa — obras ambientadas, afinal de contas, mais ou menos no mesmo pedaço do mundo — há todo um percurso de questionamento de mitologias sociais, de aprofundamento crítico do modo de encarar o homem brasileiro e sua circunstância. Não vai aqui nenhum juízo de valor. Jorge Amado é imenso e fundamental. Mas, para uma nova geração de artistas, igualmente necessária, a Bahia não é mais a mesma.
.

Thaís Araújo e Lázaro Ramos se unem em segredo


Os dois pombinhos disseram sim um ao outro no dia do aniversário da atriz
Foi em clima de suspense e mistério que Taís Araújo e Lázaro Ramos selaram um amor de um ano e dois meses. No dia 25, sexta, os apaixonados disseram sim um ao outro em uma cerimônia discreta para a família e os amigos mais íntimos, no novo apartamento de Taís, no Leblon, Rio. A data foi escolhida a dedo: naquele mesmo dia a musa completou 27 aninhos e, claro, estava radiante. Tanto quanto no dia 22, durante um show do Araketu, no qual a estrela também foi homenageada por amigos como a atriz Neusa Borges e ganhou bolinho especial e muitos beijos do agora "namorido". O romance entre a estrela de Da Cor do Pecado e o astro de sucessos como Sexo Frágil começou depois que ela terminou um relacionamento de três anos com o campeão de jiu-jitsu Márcio Feitosa. No início, Taís e Lázaro mantiveram o namoro longe da imprensa, mas, em setembro do ano passado, saíram da casa dele em Santa Teresa, também no Rio, e seguiram para o Canecão, para assistir à peça A Casa dos Budas Ditosos, com Fernanda Torres.
.
Thaís e Lázaro não se desgrudam. No dia 22 os dois se esbaldaram no show do Araketu, onde a bela teve direito a um bolo de aniversário com velinhas e parabéns
.
Aquela seria a primeira aparição em público como namorados. "Estamos juntos, sim", declarou Taís, sem dar maiores detalhes na época. Lázaro também não quis fazer comentários sobre o assunto.
.

Durante show, o casal dançou bem juntinho e se divertiu muito
Depois do "casamento" os pombinhos partiram em lua-de-mel pela Europa e, na volta, Lázaro já estará morando no apartamento de Taís, comprado exatamente para a nova vida do casal. Enquanto isso, aqui no Brasil, entre os familiares, o silêncio sobre o casório é absoluto. "Não confirmo nada", disse dona Mercedes, mãe da atriz. "Li nos jornais a nota sobre o casamento e isso eles confirmam quando chegarem de viagem."
.
Talvez o nítido aborrecimento da mãe da estrela se justifique já que ela sonhava para a filha uma cerimônia de casamento tradicional, no religioso, com igreja cheia, véu, grinalda e tudo o mais. Mas, pela felicidade estampada nos olhos de Taís e Lázaro, absolutamente nada disso fará falta.
.

As mil faces de Lázaro


Intenso e versátil, o ator encanta platéias, é disputado por diretores e agora se destaca como apresentador na TV
.
O cineasta Jorge Furtado escolheu o ator que seria o protagonista de seu filme O Homem Que Copiava (2003) nos primeiros minutos em que testava um rapaz para o papel. ''Na hora eu pensei: onde é que estava esse cara?'', lembra. O motivo de tamanho espanto chama-se Lázaro Ramos. Conquistado pelo talento do rapaz, Furtado fez um roteiro sob medida para que Lázaro pudesse exercitar sua veia cômica. O resultado é Meu Tio Matou um Cara, atualmente em cartaz.
.
O ator Wagner Moura teve uma sensação parecida: viu Lázaro no palco há dez anos, em Salvador, terra natal de ambos. Impressionado, foi ao camarim cumprimentá-lo. ''Ele nem tinha o papel principal, mas me deixou de queixo caído'', conta. Com Lázaro cada vez mais em evidência, no cinema e na televisão, a reação tem se repetido com freqüência - entre diretores, atores ou anônimos espectadores.
.
Foi em 2002, com seu primeiro papel como protagonista, no longa Madame Satã, de Karim Ainouz, que ele causou surpresa pela primeira vez. Ganhou elogios rasgados na pele do lendário malandro da boemia carioca. Recebeu mais de dez prêmios, nacionais e internacionais. De lá para cá, fez outros cinco filmes, dois com estréia prevista ainda para este ano: Cidade Baixa, de Sérgio Machado, história de um triângulo amoroso, e Cafundó, de Paulo Betti e Clóvis Bueno, que narra a trajetória do líder espiritual João de Camargo.
.
Na televisão, deve estrelar a terceira temporada da sitcom Sexo Frágil, na Globo. Desde janeiro, apresenta o quadro Instinto Humano no Fantástico. Por sua capacidade de comunicação, foi escolhido para apresentar os 16 episódios da série produzida pela BBC inglesa. Os quadros respondem a curiosidades sobre o comportamento humano. É mais uma das facetas de um artista que tem na versatilidade seu maior trunfo.
.
''Não gosto de rótulos. Sou um ator e ponto. Mas tenho muita curiosidade e minha cabecinha é doida'', diz Lázaro. Ele também está trabalhando para montar neste ano, no Rio de Janeiro, a peça infantil Paparutas, texto seu inspirado nas lembranças da infância na Ilha do Pati, na Bahia, onde passava férias. Filho de um operário e de uma empregada doméstica, foi criado pela avó. Formou-se num curso profissionalizante de Patologia Clínica apenas para satisfazer o pai - e assim conseguir continuar nas aulas de teatro. Ele chega aos atuais 26 anos com um currículo que impressiona. Sente falta dos tempos do Bando de Teatro Olodum (companhia só de atores negros), da preparação contínua de interpretação, da dança, do canto, da reação imediata da platéia. Talvez por sua formação, acha a TV um veículo difícil. ''É muito rápida, industrial. Como gosto de burilar os personagens, acabo me desgastando.''.
.
Para cada papel, o ator se prepara de uma forma diferente. ''Alguns estão dentro de mim, como o André, de O Homem Que Copiava. Foi só buscar o adolescente que eu mesmo fui'', diz. Com Madame Satã foi diferente. O criminoso, artista, homossexual, mito do bairro da Lapa não registrava semelhanças com a vida do ator. ''Usei a intuição e precisei simplesmente me jogar, sem pensar muito no que estava fazendo'', conta. Para ajudar, morou na Lapa por algum tempo. ''Compor um personagem é muito bom. Tenho muitas idéias, gosto de recriar o texto, de ter liberdade para inventar. Penso em dirigir um dia'', diz.
.
Foi nesse contexto que aceitou o convite para apresentar Instinto Humano, função em que vai estar por quatro meses. ''O programa tem uma linguagem que me agrada. Gosto de criar formas interessantes de explicar para o povo coisas complicadas como Biologia e Teoria da Evolução'', diz. ''Tenho me divertido muito.''.
.
Lázaro acredita que o ator tem um papel social. Acha que seu trabalho serve para entreter, mas que não pode deixar de lado a reflexão. Gosta de tentar o novo e quer dar voz a uma parte do Brasil que não tem tido espaço. ''Não escolho trabalhos pela repercussão que poderão ter, mas pela possibilidade de dar meu depoimento por meio deles.'' Ele se interessa por política, lê, é informado, tem senso crítico sobre o que o rodeia. ''O dia-a-dia é minha matéria-prima. Um ator corre perigo quando fica olhando para si mesmo o tempo todo'', afirma.
.
Com tantos trabalhos, Ramos tem se tornado onipresente, superando o preconceito que ainda existe em relação aos atores negros e ao sotaque nordestino. Namora há três meses uma das beldades do país, a atriz Thaís Araújo. Mas, da vida pessoal, ele não gosta de falar. Elogia, no máximo, a beleza do Rio, cidade onde fincou pé há um ano e meio. ''Ainda fico bestificado de ver, não me acostumo.''. A frase poderia ser dita quando se vê Lázaro em cena.

.

Lázaro Ramos proclama a consciência negra no cinema


07/01/2003
.
Neusa Barbosa
Ninguém combinou nada antes - nem poderia - mas 2002 parece destinado a ser o ano em que o cinema brasileiro descobrirá os atores negros. A descoberta pode parecer estranha, mas acontece ainda pela falta de autoconsciência do Brasil como país multirracial. Tudo começou no Festival de Cannes/2002, onde repercutiram intensamente duas produções com elencos em que atores negros ocuparam papéis dominantes: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (uma das grandes bilheterias nacionais do ano) e Madame Satã, do estreante Karim Aïnouz (co-roteirista de Abril Despedaçado, de Walter Salles). Objeto de polêmica em Cannes por conta de algumas intensas cenas de sexo, o filme de Aïnouz centra-se na figura de João Francisco dos Santos, vulgo Madame Satã, o malandro que reinou na Lapa carioca dos anos 30, interpretado com uma energia extraordinária por um jovem ator baiano, Lázaro Ramos, que nenhum cinéfilo digno deste nome poderá, daqui em diante, ignorar. Nascido em Salvador, em 1978, Lázaro desponta como um dos grandes novos talentos do cinema nacional. Nesta entrevista exclusiva, ainda em Cannes, em maio de 2002, o ator comenta seu personagem no filme de Aïnouz, seus outros trabalhos e os dilemas dos atores negros no Brasil.
.
Cineweb - No filme, você parece muito mais velho do que realmente é. Como você conseguiu essa transformação?
Lázaro Ramos - Foi um trabalho de caracterização muito sutil. Junto com a maquiagem, minha interpretação sempre buscou seguir a postura que o Karim [Aïnouz, diretor do filme] indicou no personagem, que era a postura de uma pessoa mais madura. Em cada cena, eu sempre tinha na cabeça: "Sua idade é essa, sua idade é essa". E aí eu ficava observando meu corpo para que o mínimo movimento não parecesse mais jovem, para manter a linguagem corporal naquele tom.
.
Cineweb - Dessa série de filmes seus que estão estreando no segundo semestre de 2002, qual foi o primeiro?
Lázaro - O primeiro mesmo foi As Três Marias, que estreou no Festival de Berlim. Antes disso, eu já tinha feito outros três filmes que não são grande coisa. Fiz um que é péssimo, Cinderela Baiana, com a Carla Perez. Não me arrependi de ter feito, porque ganhei muito dinheiro, mas é ruim... Antes, tive uma participação afetiva no filme da Monique Gardenberg (Jenipapo), com meu grupo de teatro, e um terceiro, Sabor da Paixão. Madame Satã é o primeiro como protagonista.
.
Cineweb - Você já conhecia o personagem de Madame Satã?
Lázaro - Nada. Morando na Bahia, meu pai me falava que tinha um cara que era um viado que dava porrada em polícia. O que é muito pouco para se dizer sobre ele. O grande conhecimento eu fui ter depois, ao fazer o filme. Nós lemos dois livros e vimos algumas imagens. Vi um curta-metragem chamado Lapa 69 em que ele aparece já no final da vida. E também ouvi a voz dele numa fita cassete. Aí virei um expert.
.
Cineweb - Aí você foi dominando o personagem...
Lázaro - Fui dominando, mas a idéia não era imitá-lo. Se eu fosse fazer a voz dele, ninguém ia agüentar o filme. A voz dele era assim o tempo todo [imita uma voz bem anasalada].
.
Cineweb - Então essa foi a primeira escolha que você fez.
Lázaro - Na verdade, eu e o Karim fizemos a escolha juntos. Ou então usar essa voz apenas em pequenos momentos, como quando ele vai seduzir alguém. Mas a busca era ser fiel aos sentimentos que o personagem passava no filme.
.
Cineweb - Você tem uma experiência que vem de teatro, não?
Lázaro - Minha experiência vem de teatro num grupo chamado Bando de Teatro Olodum, que é um grupo formado por atores negros.
.
Cineweb - Aliás, o cinema brasileiro visto no Festival de Cannes [Madame Satã e Cidade de Deus] foi todo feito por atores negros.
Lázaro - Isso é muito importante. Como ator negro, questiono muito esses papéis só marginais que nos são dados no cinema, no teatro, na televisão. Eu só protagonizei algumas produções porque fazia parte do Bando de Teatro Olodum, que é um grupo voltado para um trabalho com atores negros, para abrir mercado de trabalho sobre temas sociais. Só pude ter essas experiências em quatorze espetáculos porque estava lá.
.
Cineweb - Que papéis você fez lá?
Lázaro - Fiz Sancho Pança. Não precisavam de um ator negro para fazer Sancho Pança...
.
Cineweb - Mas também não tinha porque não ser...
Lázaro - Não, não tinha. O que eu percebo é que às vezes o problema não é ser marginal. Às vezes, só dão ao ator negro um papel de marginal e de empregada doméstica sem substância. O personagem entra em cena para dizer: "Sim, senhora; não, senhora; trouxe seu leite; seu jantar está servido". Quando fazem uma novela em que a empregada é a protagonista, botam uma atriz branca para desempenhar o papel. Em Madame Satã, fazemos papéis de personagens marginalizados, mas aí tem muito material para um ator trabalhar. São personagens vigorosos, onde a gente tem muito o que construir.
.
Cineweb - Você enfrentou muito preconceito como ator?
Lázaro - Vivendo no Rio de Janeiro há um ano somente, eu ouvi muitos me dizerem: "O único ator negro bom que eu conheci foi você". Um produtor de elenco entrou no meu camarim numa peça e disse: "Nossa, que ótimo, um ator negro bom, até que enfim". Ou então coisas assim: "Não se preocupa não que a gente agora está trabalhando muito com tipo, tá?". Isso é preguiça de produtor de elenco em procurar... Onde é que Fernando Meirelles [diretor de Cidade de Deus] encontrou aquele elenco todo? A gente pode contar qualquer história. São seres humanos. Todo mundo ama, todo mundo mata, todo mundo morre.
.
Cineweb - E o melhor é que não foi uma coisa planejada vocês todos irem para Cannes, com Madame Satã e Cidade de Deus.
Lázaro - Por mérito dos filmes. Ninguém marcou: "Esse aqui vai ser o ano do cinema negro".
.
Cineweb - O mais importante é que esses filmes, em particular, são para consumo brasileiro. Há pessoas, principalmente de classe média, que olham para o Brasil e não entendem que este é um país com uma ampla parcela da população negra.
Lázaro - É por isso que ainda falta muito para a gente chegar a ser cidadão, a ser povo. Porque o povo só é povo quando ele se aceita da forma que ele é. Usando uma frase feita, até. Isso só vai enriquecer a auto-estima do brasileiro em geral, não só a do negro.
.
Cineweb - Falando em auto-estima, essa foi sempre uma grande característica do Satã. Porque ele era preso, apanhava da polícia mas nunca abria mão da sua auto-estima. Ele sempre se referia a si mesmo como "a minha pessoa". Sempre resistia a ser tratado como lixo. Era um traço positivo, de afirmação dele.
Lázaro - Muito legal mesmo.
.
Cineweb - Você se candidatou desde o começo ao papel do Satã?
Lázaro - Não. Eu fiz teste para o Tabu. Aliás, muito desse personagem que existia no roteiro mudou por causa da constituição que o Flávio Bauraqui deu, do respeito com que ele o faz e das nuances que criou. Ele tem uma forma muito mais delicada de construir o personagem do que a prevista inicialmente no roteiro. Contracenando com ele, eu vejo uma dona-de-casa. No meu teste, fiz totalmente diferente. Fiz uma coisa mais rasgada. O Flávio é mais profundo.
.
Fotos: Neusa Barbosa/CinewebCineweb - 27/9/2002

LÁZARO RAMOS NO ESPELHO DE MADAME SATÃ


Protagonista de um dos filmes mais esperados do festival, o baiano Lázaro Ramos, de 23 anos, já é considerado por muitos um dos maiores atores brasileiros da nova geração por sua atuação em Madame Satã, dirigido por Karim Aïnouz. Interpretando um personagem intenso, cheio de paixões e rebeldia, Lázaro - que começou sua carreira no Bando de Teatro Olodum, em Salvador, sua cidade natal - chega ao quinto longa-metragem. Os outros foram O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca; As Três Marias, de Aluízio Abranches; Cinderela Baiana, de Conrado Sanches; e Sabor da Paixão, da venezuelana Fina Torres. Ele também atuou em Carandiru, de Hector Babenco (para o qual foi convidado depois do diretor ter visto seu desempenho em Madame Satã) e O Homem que Copiava,de Jorge Furtado. Antes da coletiva que reuniu atores e diretores da Première Brasil, Lázaro falou sobre seu trabalho em Madame Satã e seus próximos projetos.
.
Como foi pra você interpretar o Madame Satã? Você já o conhecia?
.
Eu não tinha muitas referências. Meu pai me contou, morando em Salvador, que havia um malandro que dava porrada em seis marginais ao mesmo tempo. Meu conhecimento era somente esse. Mas foi muito bom, um grande desafio que valeu a pena.
.
Como foi a criação do personagem?
.
Teve um estudo de práticas: aprender a lutar capoeira, mexer com navalhas e ao mesmo tempo ler a biografia dele e ver filmes de referências. Mas como o filme não se propõe a ser biográfico apenas, é um filme que quer discutir o sentimento e a intimidade, as grandes referências para a construção do personagem eram os sentimentos propostos no roteiro. A partir dessa busca a gente entendia um pouco dele. Quer dizer, entendê-lo a gente não vai nunca, mas entender um pouco de onde brotavam esses sentimentos que fizeram dele o mito que era.
.
O que você achou da polêmica sobre a cena de sexo no meio do filme com o ator Felippe Marques?
.
Achei muito engraçado as pessoas falarem isso porque o filme tem uma hora e vinte e a cena tem dois minutos. Deve mexer com as pessoas por "n" questões. Primeiro, porque é uma cena de sexo homossexual e inter-racial, e ao mesmo tempo tem um detalhe, que ela é carinhosa e não brutal. E aí ela mostra que é possível. E isso deve mexer com as pessoas. Eu acho isso muito bom porque o espectador não sai do filme imune, ele reflete. E o filme também não se representa só por essa cena de sexo. Cada momento dele traz uma sensação diferente e isso eu acho bonito. Acho que a cena de sexo compõe, mas não é tudo no filme.
.
Qual característica do Madame Satã você mais admirou?
.
A reinvenção. Em cada cena ele era uma coisa. Em uma ele era uma lady; em outra, queria ser muito violento; e em uma terceira, era carinhoso. E isso me impressionou muito em uma figura que em dois segundos consegue ter 50 características diferentes.
.
Como foi trabalhar com Karim Aïnouz?
.
Em primeiro lugar, ele é um diretor muito carinhoso. Só fiz o que fiz porque foi com ele, que tem muito tato, é muito competente, sabe o que quer e sabe pedir muito bem. O Karim tem bem claro na cabeça dele o que quer e te comunica de uma forma que você entende, vai lá e executa. Eu o admiro muito.
.
Madame Satã tem uma luz pouco comum, cheia de claros-escuros. Como isso influencia no filme?
.
Acho que só ajuda. A grande qualidade do filme é a luz, o desfocado, a descontinuidade. Gosto muito daquele clima que se apresenta nele. Tem algumas cenas que o áudio vem primeiro e depois vem a ação. Eu acho isso muito bonito, uma boa sacada.
.
Qual você acha que vai ser a repercussão do filme no Brasil?
.
Eu espero que boa. Estou ansioso para que meus amigos vejam porque estou muito orgulhoso desse filme. E acho que vá mexer com as pessoas. Não chega a ser um filme comercial, mas ao mesmo tempo é um personagem muito conhecido. Eu acho que vai um dos filmes chamados “não comerciais” que vai ultrapassar essa barreira porque o que se discute na história é muito maior do que ser comercial ou não.
.
Como foi o processo de seleção pelo qual você passou para viver o Madame Satã?
.
Quando eu ainda morava em Salvador, o [diretor e roteirista] Sérgio Machado fez um teste comigo. Eu tinha 19 anos, parecia muito novo para o personagem. Aí, vim para o Rio fazer uma peça chamada A Máquina e quando cheguei aqui, o ator que iria fazer o filme teve outros compromissos. Três semanas antes de começarem as filmagens, o Karim me chamou para mais um teste. Nesse meio, eu tinha feito outros dois testes. O primeiro não prestou porque a minha fita ficou muito escura e no segundo, o áudio ficou ruim. Mas o universo conspirou para que esse personagem fosse meu!
.
Quais são seus próximos projetos?
.
Eu estou fazendo uma mini-série - que na verdade é filme - do Sérgio Machado, para a [Rede] Globo. Vai passar em novembro. Se chama Os Pastores da Noite, [inspirada na obra] de Jorge Amado. Tem o Mateus Nachtergaele e o Luiz Carlos Vasconcellos.
.
(Dominique Valansi)
Fonte: Festival do Rio

Madame Satã



Por Maria do Rosário Caetano


O ator baiano, vindo do Olodum, brilha em cinco filmes. Lázaro Ramos é uma revelação que está chegando através do cinema.
.
Em fevereiro de 1961, o então fotógrafo e jornalista Luiz Carlos Barreto estampou, na revista “O Cruzeiro”, magníficos retratos de Luíza Maranhão. A jovem cantora, de 22 anos, estreava como atriz em “Barravento” (Glauber Rocha). No texto escrito para saudar a futura musa do Cinema Novo, Barreto garantia: “Luíza tem o jeito e o talento de Sophia Loren”. E mais: “quando ‘Barravento’ chegar às telas, sua heroína, Luíza Maranhão, uma gaúcha autêntica, será a namorada negra do Brasil”.
.
Passaram-se 41 anos. Luíza anda sumida. E os atores negros como ela ainda lutam por grandes papéis no cinema. Um deles, porém, furou o cerco e construiu, com rapidez e brilho, sua hora e vez. Já tem avalista para seu talento. Alfredo Ribeiro, o Tutty Vasquez, avisou em sua coluna semanal na revista “Época”: “chama-se Lázaro Ramos o melhor ator brasileiro da atualidade!”.
.
Lázaro, baiano legítimo, chegará às telas brasileiras em dois papéis de protagonista: num, encarna o homossexual Madame Satã. No outro, André, jovem fotocopiador, que reproduz imagens e textos numa máquina xérox. Neste mês de julho, o ator, que saiu das fileiras do Bando Teatral Olodum, poderá ser visto em “As Três Marias”, de Aluízio Abranches. Em novembro será a vez de “Madame Satã”. Em fevereiro, o Festival de Berlim o verá na pele de “O Homem que Copiava”. Dois dos outros filmes que o têm no elenco – “O Homem do Ano”, de José Henrique Fonseca, e “Carandiru”, de Hector Babenco – estarão no circuito dos festivais e salas de exibição, em datas ainda por definir.
.
A partir da estréia comercial de “Madame Satã”, Lázaro se aproximará de um dos maiores atores negros da história cinematográfica brasileira: Milton Gonçalves (hoje com 68 anos). É curioso lembrar que a glória máxima de Milton também se deu com personagem inspirado em Madame Satã: a Rainha Diaba (de Plínio Marcos & Antônio Carlos Fontoura). Pelo travesti que protagonizou o thriller pop-gay de Fontoura, Milton ganhou de uma tacada só o Candango, no FEST Brasília, o Air France, o Governador do Estado e a Coruja de Ouro.
.
Quantos prêmios ganhará Lázaro Ramos? Só o tempo dirá. Enquanto isto, vale rever sua curta – e bem sucedida – trajetória. Lázaro tem 23 anos. Iniciou-se como ator no Bando de Teatro Olodum, usina de talentos. Estreou no cinema, “numa participação afetiva”, em “Jenipapo” (Monique Gardenberg/1996). Depois faria papel de destaque em “Cinderela Baiana” (Conrado Sanches/1998), filme protagonizado pela dançarina Carla Perez. “Me coube interpretar o melhor amigo da Cinderela baiana” – relembra, para, em seguida, confessar: “O filme pouco me exigiu como ator, até por suas duvidosas qualidades, mas sou grato ao convite que Conrado e Antônio Galante me fizeram, pois a partir deste filme consegui me dedicar somente à minha profissão de ator”. Naquela época, Lázaro trabalhava como Técnico em Patologia. “Com o dinheiro que recebi pelo filme consegui abandonar o emprego e me dedicar por inteiro ao teatro”.
.
Outro papel pequeno levou o ator ao casting de “Sabor da Paixão”, produção norte-americana comandada pela venezuelana Fina Torres. Lázaro interpretou um dos amigos baianos do protagonista (Murilo Benício), amante apaixonado e caliente da cozinheira Penélope Cruz.
.


O quarto filme do jovem integrante do Bando Olodum foi “As Três Marias”. “Pela primeira vez” – avalia – “tinha em mãos o desafio de criar um personagem mais elaborado. Me entreguei por inteiro, comecei a aprender (e a me apaixonar por) cinema. A cada novo dia no set, meus olhos brilhavam no contato com os colegas e com toda aquela parafernália de equipamento. Atores e diretor, tão generosos, me motivavam. E havia aquele balé com a equipe técnica. Um balé capaz de, num segundo, levantar uma grua ou montar um carrinho”.
.
O ator encantou-se com “a oportunidade de lidar com o humor” num filme cuja narrativa “se desenvolve num universo mais puxado para o dramático”. Lembra que se sentiu “desafiado a descobrir o equilíbrio entre a comédia e o drama”. E que “a busca desta descoberta virou motivo de grande prazer”.
.


O personagem de Lázaro Ramos em “As Três Marias” chama-se Catrevagem, e funciona como tradutor para Zé das Cobras (Enrique Dias), um matador que não fala com mulheres. Daí sobrar-lhe a função de intermediário entre o assassino de aluguel e uma das Marias – Maria Francisca (Julia Lemmertz).
.


Outra “experiência estimulante” se deu em “O Homem do Ano”, produção da Conspiração Filmes, comandada por José Henrique Fonseca. O filme, baseado no romance “O Matador”, de Patrícia Mello, foi roteirizado por Rubem Fonseca, e tem Murilo Benício como protagonista (na pele do oxigenado Michael). “Eu faço o Marcão, amigo do Michael. Marcão é mecânico e, meio ‘sem querer’, ele e sua turma de amigos (além de Benício, os atores André Gonçalves, Paulinho Moska e Perfeito Fortuna) viram matadores”.
.Sexo e sangue – O realizador Karim Aïnouz, 36 anos, é um cearense que vive nos EUA. Apaixonado pela trajetória de Madame Satã (o pernambucano João Francisco dos Santos/1900-1976), moveu montanhas para realizar seu primeiro longa. Encontrou na Videofilmes a sua produtora, e em Lázaro Ramos seu intérprete ideal.
.
Ao ser escalado por Aïnouz, o ator conseguia, em seu quinto longa-metragem, o primeiro papel como protagonista absoluto. “Creio” – diz entre brincando e sério – “que estou em todas as cenas do filme. Trabalhei muito, muito mesmo”. Depois, ressalta que “o trabalho é bem dividido com os atores que conduzem o filme comigo”. Cita Marcélia Cartaxo, Flavio Bauraqui, Felipe Marques, Renata Sorrah, Emiliano Queiroz, Ricardo Blat e Marcello Valle.
.
A “Rainha Diaba”, de Plínio Marcos & Fontoura, marcou o cinema brasileiro nos anos 70. Além de causar frisson com o magnífico desempenho de Milton Gonçalves, o thriller gay fontouriano chegou disposto a dialogar com o grande público. Por causa do rigor censório dos anos Médici, os filmes brasileiros mergulharam, no pós-AI-5 (a definição é de Antônio Houaiss) no neobarroquismo. Eram herméticos, quase impenetráveis (que o digam “Os Deuses e os Mortos”, de Ruy Guerra; “Quem é Beta?” e “Azyllo Muito Louco”, ambos de Nelson Pereira dos Santos). O próprio Nelson tentava diálogo popular com o vibrante “O Amuleto de Ogum” (1975, mesmo ano de “Diaba”). Pois a Rainha pop-gay mobilizou 236.805 espectadores. Serviu de esquentamento para os anos de ouro da era embrafílmica (1976/1979), quando muitos filmes venderam mais de um milhão de ingressos. E “Dona Flor” vendeu 11 milhões.
.
Se depender do empenho e entrega de Lázaro Ramos, o “Madame Satã” de Aïnouz mobilizará grandes platéias. “Me coube fazer, neste filme, o próprio João Francisco, um homem que existiu e que se fez mito”. E acrescenta: “falar que o personagem é um homossexual carioca, malandro que batia em polícia, me parece pouco. Isto é o que todos sabem dele. Nosso filme foi feito para vermos João Francisco por outros prismas”.
.
Para Lázaro, “ele foi uma pessoa que nasceu 12 anos após a Abolição da Escravatura e, como muitos outros negros, não dispunha de opções variadas de trabalho”. Isto “porque os escravos foram libertados... e só. Nada foi feito para que se inserissem, como cidadãos, na sociedade brasileira”. O jeito para João Francisco “foi usar como arma de sobrevivência sua única opção, o corpo, seja lutando capoeira, fazendo shows ou se envolvendo com o crime”.
.
“Madame Satã”, o filme, se passa na Lapa boêmia, anos 30 e 40. “Mas a questão da sobrevivência de um negro brasileiro”– pondera Lázaro – “permanece muito atual. Tão atual quanto outras questões tratadas no filme, como os relacionamentos humanos. Por isto, tenho para mim que “Madame Satã” é um filme sobre um personagem muito complexo, que não pode ser explicado com uma só frase”.
.
O desafio de incorporar Madame Satã foi imenso. “Além de ser meu primeiro trabalho como protagonista” – pondera – “tive que elaborar sobre essa personalidade tão rica, que vai do malandro ao sensual, passando pelo carente, que dá uma voltinha no carinhoso e se equilibra na violência”.
.
João Francisco dos Santos é visto em “Madame Satã” já na casa dos 30 anos, fase em que se inicia no crime. Depois de desfilar fantasiado de Madame Satã, o nome gruda em sua persona como tatuagem na pele. Chega aos 40 anos. O filme não vai até sua fase derradeira. Ele morreria no Rio, cidade que adotou, aos 76 anos.
.
Como um ator de apenas 23 anos se preparou para viver personagem de 30 e, depois, 40 anos? Lázaro confessa que foi difícil, embora prazeroso, pois “tive a oportunidade de lidar com emoções muito diversas, e algumas pelas quais ainda não passei. Para tanto, contei com a colaboração fundamental do Karim Aïnouz, realmente muito habilidoso, com Luís Henrique, o preparador de elenco, e com os colegas atores, dos quais recebi, todos os dias, um olhar cúmplice”. E há “Walter Carvalho na fotografia. Não tenho o menor pudor em adjetivá-lo como grande gênio generoso”.
.
Perguntas ligadas ao sexo homossexual se impõem numa conversa com o intérprete de personagem que fez do corpo o seu instrumento de trabalho. Lázaro prefere não se ater a elas, isoladamente. “É difícil”– pondera – “comentar cenas isoladas quando o filme, que teve tantas cenas difíceis, se apresenta por inteiro. Há cenas de luta, sempre difíceis de fazer; há cenas que envolvem sentimentos profundos. Espero que o filme, com seus muitos temas, conduza cada espectador a um mundo diferente, um mundo capaz de tocá-lo de maneiras muito particulares”.
.
André e o xérox — O segundo papel de protagonista de Lázaro Ramos se deu no filme gaúcho “O Homem que Copiava”, segundo longa de Jorge “Ilha das Flores” Furtado. O ator mal terminara as filmagens de “Madame Satã” e já atendia ao desafio de dar vida a André, “estudante comum e tímido, empregado numa fotocopiadora”.
.
Lázaro define seu personagem: “André é um jovem de 19 anos que, assim como muitos jovens brasileiros, não tem muita perspectiva na vida. Ele gosta muito de desenhar e seu trampo é tirar xérox numa papelaria”. Da experiência gaúcha, Lázaro Ramos guarda “o prazer de trabalhar com Pedro Cardoso, de quem sou fã assumido, e Jorge Furtado, diretor dos mais criativos e talentosos”, além de “conhecer o competentíssimo trabalho da Casa de Cinema de Porto Alegre, produtora do filme”.
.
Hector Babenco viu Lázaro Ramos em “Madame Satã” e o convidou para o numeroso elenco de “Carandiru”, recriação cinematográfica do best-seller “Estação Carandiru”, de Dráuzio Varela (há 118 semanas na lista de livros mais vendidos).
.
O consagrado diretor de “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, apaixonado pelos desvalidos da sorte, convocou Lázaro para dar vida ao surfista Ezequiel. “Meu personagem vive trajetória tragicômica, que vai da saúde total e do prazer de gozar a vida, na maior, viajando pelas ondas do mar, até que passa uma transformação dentro do presídio, onde começa a viajar pelas ondas do crack”.
.
Lázaro dedicará seus próximos meses à divulgação dos novos filmes. Mas avisa que espera muitos e novos convites, pois “o cinema é hoje em dia a minha grande paixão. Era assim como espectador e, agora, tornou-se ainda maior, já que passei, como participante ativo, a fazer parte dele”.
.
O ator espera convites para “papéis o mais diversificados possível”, pois entende que “faz parte do aprendizado de um intérprete caminhar por vários universos, explorar seus sentimentos, seu corpo e sua voz nas milhões de formas possíveis”.
.

Monstro Imbatível


10/01/2003
Lázaro Ramos começa a surgir. Revelado no Bando de Teatro do Olodum, Ramos ganhou local de destaque na cinematografia brasileira este ano ao participar de vários filmes. As Três Marias, de Aluísio Abranches, Madame Satã, de Karin Aïnouz, O Homem que Copiava, de Jorge Furtado, O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca e Carandiru, de Hector Babenco prometem transformar Ramos em estrela. Alguns deles ainda não estreiaram. Outrossão sucesso de crítica.
.
Madame Satã, o primeiro filme protagonizado pelo ator, revelou ao mundo e ao Brasil seu talento. Ao encarnar com vigor e paixão o marginal João Francisco dos Santos, Ramos se transformou em um monstro imbatível. Elogiado e aplaudido em diversos festivais, o ator promete revolucionar o cinema nacional com talento e juventude.
.
Dono de uma fala tranqüila e de voz marcante, Ramos é um privilegiado. Formado em um grupo de atores negros, o Bando de Teatro do Olodum, ele diz nunca ter sofrido discriminação. Já interpretou Sancho Pança no teatro e recentemente participou da mini-série Pastores da Noite, da Rede Globo.
.
Mas Ramos sabe que esta realidade não é a todos. Sua vida difere da maioria dos atores negros do país. Consciente da falta de bons papéis para negros, Ramos reinvindica maior compromisso dos diretores de elenco e dos autores, defende a diversidade e quer profundidade. Nesta entrevista o ator fala sobre sua carreira eexpõe sua visão sobre a mídia brasileira. (TPR)
.LÁZARO RAMOS - Entrevista realizada em 20/12/2002 - Por Thiago P. Ribeiro
.
Cinemando - Como são os papéis escritos para negros, na TV e cinema no Brasil?
.
Teve uma evolução desde que comecei a fazer e estudar teatro. Uma evolução que é real, mas que é insuficiente, porque a quantidade de negros que nós temos na sociedade e não está na TV. Acho que a TV devia representar essa diversidade que nós somos. Nós somos brasileiros, temos tanta diversidade e não somos representados na TV. Insistentemente temos um problema de não inserção na dramaturgia. Os personagens não estão ali para contar, só para ser objeto de cena, não tem vida, não tem história para contar, ou então são personagens marginalizados. Eu acho que a dramaturgia devia se apropriar mais aos personagens, dar oportunidade para os atores contar as histórias. Isso ainda falta.
.
Faltam papéis mais profundos, algo que fuja dos esteriótipos?
.
Mais profundos, em maior quantidade e para ficar perfeito, tinha que ter de tudo. Em primeiro lugar, tinha que contar muito mais a nossa história, porque com certeza essa renovação que o cinema está sofrendo é porque se apropriou das histórias dos negros, das histórias não-oficiais, que não são contadas e que vêm sendo contadas com verdade e propriedade. Ao mesmo tempo tínhamos que contar histórias que servissem como auto-estima para o negro, colocar o negro com papéis melhores, com papel de advogado, médico, empresário, porque isto existe e ajuda na auto-estima.
.
Eu acho que tinha que ter uma abertura maior, não tem muito regra. é preciso discutir muito mais a questão e aumentar a quantidade e aqualidade.
.
Filmes como Cidade de Deus, mostrando garotos negros no papel de marginais, matando uns aos outros prejudicam a imagem do negro? Esta estigmatização da imagem do negro como marginal pode causar algum dano, principalmente na cabeça da juventude negra do país?
.
É tão difícil falar isso! Eu acho que não. Eu acho que tem que ter espaço pra tudo. Não pode ter só isso, não pode ser só Cidade de Deus, mas eu acho que também é uma realidade que existe e precisa ser falada. Mas o que eu acho que falta na gente é diversidade. Se temos só Cidade de Deus para representar isso pode ser prejudicial sim, mas se temos uma diversidade, se temos Cidade de Deus, se temos Madame Satã, que já aborda um personagem complexo, se temos Uma Onda no Ar, do Helvécio Ratton, que éum filme espetacular porque mostra uma alternativa e mostra uma outra forma de encarar o fato e temos O Homem que Copiava, do Jorge Furtado, que eu protagonizo e que fala sobre uma adolescência e suas perspectivas, isso muda. Eu acho que tem que ter espaço para tudo.
.
Você sofreu algum tipo de preconceito na sua vida profissional?
.
Eu conheço essa realidade, mas eu tenho um histórico muito específico. Comecei minha carreira no Bando de Teatro Olodum, que é um grupo somente com atores negros, fazendo bons personagens, dando certo em Salvador e passei minha vida toda lá. Eu vim para o mundo no ano de 2000, quando eu saí do Bando. Vim pra fazer A Máquina, que foi um espetáculo de muito sucesso, de João Falcão e depois disso fui convidado para fazer diversos filmes.
.
Não sofri com isso, mas conheço essa realidade difícil, do ator negro que não tem bons papéis, que não tem muitos convites. É um problema real e muito duro.
.
Falta uma certa união, grupos como o que você participou, iniciativas para unir e dar oportunidades, não só aos negros mas também aos marginalizados da mídia?
.
Tudo que eu for te responder não vai ser definitivo, porque eu sempre acho que tem ter espaço para tudo. Tem que ter espaço para isso se isso é fundamental. Eu sou o ator que sou porque pude me exercitar no Bando de Teatro Olodum, fazendo personagens que talvez não fizesse em outros lugares. Fiz Sancho Pança. Em nenhum outro elenco eu seria escolhido pra fazer esse personagem. O grupo foi essencial para dar capacitação mostrar o mercado de trabalho.
.
Mas acho também que ao mesmo tempo tem que ter uma consciência, por exemplo, de um produtor de elenco, que na hora de escalar o elenco só escala um ator negro quanto tem escrito a rubrica ator negro. Ou então quando escala o ator negro apenas quando é papel de marginal. Eu acho que tem que ter uma abertura na cabeça dos produtores de elenco. Acho que tem que ter uma abertura na cabeça dos dramaturgos, dos autores de novela, dos roteiristas de cinema e inserir dramaturgicamente esses atores negros.
.
Acho que é uma mudança geral na sociedade. Acho que tem que ter uma conscientização do mercado de publicidade de que nós somosconsumidores e queremos nos ver espelhados, afinal de contas eu também uso manteiga e quero ver comercial de manteiga com negro. Acho que é lógico, é natural. Se eu me identificar com aquele produto, vendo uma pessoa que parece comigo, eu também vou querer usar aquele produto. É uma questão de consumo.
Tanta coisa que precisa mudar. Acho que tem que ter cota sim! É uma pena eu achar isso, mas os mecanismos de mudança são muito lentos.
.
Seria um mal necessário?
.
Um mal necessário, porque os mecanismos para essa mudança não tem se mostrado dispostos. Eu não vejo autores de novelas se disponibilizarem a inserir dramaturgicamente o negro. Não vejo bons papéis escritos para negros para que isso aconteça. Não esta acontecendo e essa imposição vai ser necessária sim. Não eternamente, mas acho que vai precisar por um período.
.
Quando estréia O Homem que Copiava?
.
Estréia em fevereiro fora do Brasil e no Brasil acho que em abril.
.
Qual é a história do filme?
.
Na verdade, o filme é uma grande discussão sobre a perspectiva dobrasileiro hoje. O Homem que Copiava é a história de um adolescente tímido, o meu personagem, chamado André, que se apaixona por uma outra menina, mas nunca tem coragem de chegar pra ela e dizer isso. Ele começa então a seguir a garota e tenta conquistar o amor dela. O André é um garoto que antigamente pensava assim: "Pôxa, eu queria ser muito famoso, queria ser um ator famoso, queria ser um jogador de futebol famoso", mas que muda sua opinião e que hoje em dia só quer ser rico, muito rico.
.
O filme para mim é sobre este tempo do controle remoto, sabe? A gente pega a televisão e vai mudando o canal. A gente não tem as informações por completo. A gente vai na internet, pesquisa um pouquinho e não aprofunda as coisas. O filme retrata esse tempo fugaz. E é uma comédia, apesar de falar de um assunto tão sério.
Fonte: Cinemando


Nome Completo: Luis Lázaro Sacramento Ramos Natural de: Salvador, Bahia, BrasilNascimento: 01 de novembro de 1978

Ator
2005 - A Máquina
2005 - Cidade Baixa
2005 - Quanto Vale Ou é Por Quilo?
2005 - Cafundó (João de Camargo)
2005 - Meu Tio Matou Um Cara
2004 - Nina2003 - Carandiru (Ezequiel)
2003 - O Homem que Copiava
2003 - Homem do Ano
2002 - Madame Satã (Madame Satã)
2002 - As Três Marias (Catrevagem)
2000 - O Sabor da Paixão
1998 - Cinderela Baiana
1996 - Jenipapo



Premiações- Madame Satã lhe rendeu dois prêmios internacionais Melhor Ator nos festivais de Huelva, na Espanha, Quito, no Equador e em Lima, no Peru) e dois nacionais (Mostra São Paulo e Troféu APCA)
.
Curiosidades
- O ator baiano fez cursos avulsos de teatro, dança, canto, e integra há nove anos o Bando de Teatro Olodum, dirigido por Marcio Meirelles e formado por atores negros, em Salvador.
.
- Desde 1994 participou de mais de 14 espetáculos, incluindo o sucesso de público e crítica a peça "A Máquina", de João Falcão, que Estourou no eixo Rio-SP e o levou a trocar Salvador pelo Rio de Janeiro. Participou também das peças Mamãe Não Pode Saber, novamente sob direção de João Falcão.
.
- Fez também uma participação em Jenipapo, de Monique Gardenberg, e em Sabor da Paixão.- Em 2000, Lázaro contracena com Murilo Benício e Penélope Cruz em O Sabor da Paixão, comédia da diretora venezuelana Fina Torres.
.
- Madame Satã foi seu primeiro filme como protagonista.
.
- Em Cafundó, de Paulo Betti, Lázaro vive seu terceiro protagonista, João de Camargo, um ex-escravo que vira líder religioso.
.
- Em Nina, filme de Heitor Dhalia inspirado no clássico “Crime e castigo”, de Dostoiévski, faz uma rápida aparição como um pintor.
.

Lázaro Ramos produz documentário sobre primeiro ator negro do Brasil


A trajetória de Zózimo Bulbul, ícone negro na história nacional, será contada num documentário feito pelo ator Lázaro Ramos. Amante de documentários, este já é o segundo que ele produz.
“Já fiz um sobre o Toni Tornado, agora estou me dedicando ao documentário Retratos Brasileiros, sobre o Zózimo Bulbul, o primeiro cineasta e ator negro no Brasil. Vai ser apresentado no Canal Brasil”, contou Lázaro a OFuxico.
Zózimo Bulbul é um dos ícones negro dos anos 1960 por suas interpretações na tevê e no cinema. Na telinha, foi o primeiro protagonista negro de uma novela brasileira, fazendo par romântico com Leila Diniz em Vidas em Conflito. Além disso, foi também o primeiro manequim negro masculino de uma grife de alta costura. Além de todo o pioneirismo que envolve seu nome, Zózimo foi um dos principais atores dos filmes produzidos no movimento do Cinema Novo.
Fonte: O FUXICO
Por Flávia Almeida