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Cabaré da Rrrrraça

Wednesday, July 27, 2016

Ele foi nu ao lançamento de um livro

Foto: Davi Nunes, Lázaro Ramos e Valdeck Almeida de Jesus
 
O escritor era Lázaro Ramos, viria à capital baiana para lançar “Caderno de Rimas do João”. Os jornais e sites anunciavam e o seu fã número um já havia se agendado para o evento. No domingo chuvoso, 15 de maio, pela manhã, evitou sair de casa e até desistiu de ir pedalar em Pituaçu, para não ficar cansado, correr o risco de tirar uma soneca e perder o encontro, que se daria às 14:30hs numa livraria da cidade. A tensão era tanta que não conseguiu se manter acordado após almoçar o domingueiro feijão com carne.

Acordou atordoado, pegou um pacote de livros para doar ao ator global, ajeitou tudo numa sacola e saiu em disparada. Apesar do aguaceiro que desabava dos céus, as ruas não estavam alagadas nem o trânsito estava ruim. Do Centro à Paralela, nenhum semáforo fechado, tudo favorável. Entrou no estacionamento do shopping sem se preocupar com as boas vindas, em voz feminina, que a máquina repetia para todos que ali passavam. O importante é que a cancela se abriu, o carro passou, encontrou uma vaga providencial ao lado da escada rolante do piso G1. Subiu calmamente, encontrou Ivan Ramos, pai de Lázaro, na entrada da livraria, trocou um dedinho de prosa e foi direto ao caixa.

Senhor, aqui sua pulseira, para acesso ao teatro onde acontecerá o coquetel e sessão de autógrafos. Agora mais calmo que nunca, subiu cada degrau, chegou à entrada do Eva Herz, entrou e foi guiado por uma funcionária até a segunda fileira de cadeiras de baixo pra cima, bem em frente ao palco. Ao sentar, olhou para os lados, tentando encontrar o amigo e escritor Davi Nunes, com quem marcara encontro a fim de o apresentar a Lázaro Ramos. Não deu tempo de se verem. Ao seu lado, um senhor folheava a recente publicação de Lázaro. Aí ele se tocou que havia esquecido de comprar seu exemplar. Deixou a bolsa “marcando lugar” e voltou à loja para adquirir a obra literária. Antes de pedir, bateu a mão no bolso e notou que estava sem a carteira. Voltou correndo ao teatro, pegou a mochila e partiu para o centro da cidade, em desabalada pressa.

O portão do estacionamento se abriu para sua saída, pois o carro possui sensor de pedágio e o shopping usa o mesmo sistema. Até aí tudo bem, pois, sem dinheiro, nem conseguiria sair sem pagar nem andar de ônibus. Na volta pra casa, o trânsito não estava tão tranquilo, mas nada lhe atrapalhou. Pegou a carteira em casa e retornou ao seu destino. Novamente a cancela se abre, ele não presta atenção ao que a mulher-máquina fala e fica girando por uma eternidade em busca de uma vaga, em vários pisos do estacionamento. Para no G2 e segue uma manada que estava perdida à procura de informações de como chegar às lojas. Chegou esbaforido ao balcão da livraria, adquiriu seu livro e seguiu para o teatro, onde encontrou a porta fechada e uma fila de espera. O recinto estava lotado e a entrada só era permitida à medida que outros leitores ou fãs de Lázaro Ramos deixassem o lugar.

Quase uma hora depois conseguiu entrar e esperou mais uma hora e meia por sua vez de posar para foto com o amigo, colher seu autógrafo e trocar um dedo de prosa. As emoções estavam aplacadas, conheceu a responsável pela editora do livro de Lázaro, tirou várias fotos com os presentes e voltou, finalmente, para casa, após a comprida e cumprida missão. Agora não estava mais nu. Tinha documentos pessoais, do carro, cartão de crédito e um livro excelente para ler!
 
Valdeck Almeida de Jesus - jornalista, escritor, poeta e ativista cultural.

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Sunday, March 06, 2016

Lázaro Ramos fala sobre volta do Espelho, racismo, Oscar e internet

Programa do ator baiano, Espelho estreia nova temporada hoje, às 21h30, no Canal Brasil

Laura Fernandes (laura.fernandes@redebahia.com.br)
Atualizado em 06/03/2016
De frente com a jornalista e apresentadora paulista Marília Gabriela, 67 anos, o ator baiano Lázaro Ramos, 37, inverte os papéis. Com a câmera na mão, apontada para ela, Lázaro provoca um bate-papo descontraído, que passeia por temas diversos e até polêmicos. Questões enfrentadas pelas mulheres e a “caretice” do Brasil são apenas alguns.
Tudo isso vai ao ar amanhã, às 21h30, no Canal Brasil, quando Lázaro estreia a 11ª temporada do seu programa Espelho. O rapper Emicida, a cineasta Anna Muylaert e os atores Selton Mello e Bruno Mazzeo estão entre os próximos convidados da série, que ganha novos diretores: Renato de Paula e Elísio Lopes Jr. 
O ator baiano Lázaro Ramos estreia, amanhã, às 21h30, no Canal Brasil, a 11ª temporada de Espelho 
que reúne nomes como Emicida e Senton Mello
 (Foto: Divulgação)
Protagonista de Mr. Brau, que tem nova temporada prevista para abril; em cartaz no teatro como o ativista americano Martin  Luther King (1929- 1968); e prestes a estrear no filme Mundo Cão, dia 17, Lázaro bate um papo franco com o CORREIO. Entre os temas, estão a volta do Espelho, de Mr. Brau, seu primeiro “vilão” no cinema e a negritude, além da necessidade de revisão do Oscar e de uma cartilha de boa conduta na internet. Confira.
Como foi conversar com Marília Gabriela, uma figura tão forte como entrevistadora e que agora está no papel inverso?
Desde que comecei a fazer entrevista, sempre achei que devia convidar algum grande entrevistador, que eu admirasse. Convidamos ela quatro vezes, mas sempre estava entrevistando e não podia. Esse ano foi bom, acho que eu estava mais confortável no papel de entrevistador e ela está num momento muito bom, falando de sentimentos, morte, família. Marília simboliza um jeito de entrevista, descontraído, que gostaria para o Espelho. Não tem programas que fazem uma pré-entrevista com o convidado, antes de ir ao ar? Decidi que o Espelho será a pré-entrevista: o que parece erro, não é erro. Tem que ser exibido. Cada vez mais próximo do espectador.
Na entrevista, Marília Gabriela diz que “o Brasil está bem mais careta”. Você concorda?
Existe um movimento de encaretar a sociedade, sim, mas por outro lado, hoje em dia as ideias podem ser difundidas através de outros meios.  Estou falando, especificamente, da internet. Isso faz com que todas as vozes sejam ampliadas, desde as mais caretas às menos... Não sei o que acontece que, depois de vários avanços em prol da diversidade, existe outro movimento que quer manter as coisas no lugar. Isso me preocupa. 
Marília Gabriela está na estreia da temporada 2016 de Espelho, no Canal Brasil, às 21h30
(Foto: Caue Porto/Divulgação)
O que a 11ª temporada de Espelho traz de diferente em relação às anteriores?
A cada temporada a gente tenta se reinventar. Essa técnica de eu operar a câmera, por exemplo, começou ano passado e deu muito certo. Nessa temporada, temos uma campanha: a mulher nos postos de comando e formação de opinião. Durante cinco programas, eu não apresento, quem é dona do Espelho é a (jornalista) Flávia Oliveira, para trazer à tona essa discussão.
Espelho era mais focado na negritude e cada vez mais abrange os temas. Por que a mudança?
Os valores que a gente vai adquirindo no Espelho, a gente não exclui, só vai agregando. A proposta continua sendo dar visibilidade ao pensamento negro e falar na televisão de assuntos pouco falados. Mas a questão negra se movimenta e o Espelho se propõe a caminhar junto. As mulheres negras, as blogueiras negras, o movimento feminista negro têm papel fundamental na sociedade. É importante entender que negritude não é tema, é mais amplo que isso.
Qual é a importância de um programa como Espelho?
São 11 anos de sucesso, em que Espelho mapeou questões raciais. Ele tem uma voz que todo mundo que assiste se sente parte do problema e da solução. A ideia é aproximar as pessoas das questões, nunca afastar. A novidade desse ano é que estou só apresentando, a direção agora é de Elísio Lopes Jr. e Renato de Paula. Para mim foi um alívio, porque estava doido pra sair (risos)! Na verdade, nunca deixei a direção completamente porque tem valores que defendo. Mas agora passei o bastão para eles.
Ao lado de Taís Araújo, você atua em diferentes frentes: teatro, novela, cinema... Acha que essas linguagens bem diversas contribuem, de alguma forma, com a discussão sobre o racismo?
Claro que contribuem. E fiquei muito feliz porque, em 2015, pude atuar em um universo pop que é o Mr. Brau, uma série popular, bem-humorada. Ao mesmo tempo, pude viver Martin Luther King no teatro, importante líder político, e agora voltar com um programa reflexivo como Espelho. A gente pode falar em vários tons sobre essa questão. Todos fazem parte de um mesmo objetivo que é buscar um mundo mais justo para todos nós. A aceitação de que a gente é mais do que apenas um tom é muito importante. Por causa da popularidade do Mr. Brau, conseguimos atrair um público jovem que talvez não estivesse aberto a isso. Não importa se é dona de casa, adolescente... Mr. Brau fala com humor de uma família que a TV brasileira não tinha falado ainda, de uma família negra, de pessoas que ascenderam e têm orgulho de ser quem são. 
Ao lado da atriz e esposa Taís Araújo, Lázaro protagoniza da série Mr. Brau, confirmada para uma segunda temporada pela Rede Globo (Foto: TV Globo/Divulgação)
Você e Taís estiveram no Carnaval de Salvador, em fevereiro, para gravar cenas da série Mr. Brau. O que pode adiantar da nova temporada?
A série volta a reforçar a autoestima e o humor ágil. Esse ano, estamos cheios de participações e com 18 episódios: cinco a mais que o ano passado. Nessa temporada, a gente está tratando a música como música. As pessoas gostaram tanto com esse universo que resolvemos investir nisso. Teremos shows com plateia de verdade. A parte musical foi muito bem-sucedida.
Ao contrário do carismático Brau, você enfrenta o desafio de viver um psicopata no filme Mundo Cão. Como foi o processo?
Primeira vez que tive coragem de pegar um personagem assim. Já tinha sido convidado várias vezes para fazer personagens com vilania, mas neguei porque não me identifiquei ou porque não achava que estava na hora certa da carreira para fazer isso. Mas o filme é de um roteirista que gosto muito, Marcos Jorge, que fez Estômago. Quando li, me interessei porque  tem virada de história a cada 15 minutos e o filme traz uma discussão interessante que é a justiça com as próprias mãos. Encontrei um personagem que poderia deixar um pouco mais complexo. Ele faz muita coisa errada, é impulsivo (coisa que não sou), mas é movido por uma paixão muito forte. Me desafiei e fiquei feliz com o resultado.
Diante da internet, onde cada um fala o que quer, como lida com essa superexposição?
Quanto mais o tempo passa, mais tenho aprendido a lidar. Existe uma cartilha de boa conduta na internet que a gente ainda não tem. Não aprendemos a lidar muito bem com ela. Penso duas, três vezes antes de postar alguma coisa. Sei que sou formador de opinião e não quero ser uma pessoa que sai vomitando coisas sem saber o que falar. Vejo pessoas que vão tropegamente se suicidando. Não lido bem com esse suicídio.
Recentemente você postou em suas redes sociais o discurso de Chris Rock, no Oscar. O que acha da discussão sobre a falta de negros indicados permear a cerimônia do Oscar, este ano? É hora de uma revisão?
A revisão do Oscar já passa do tempo, né? Como você pode trabalhar com o cinema, tão diverso, e nos membros da comissão você ter um perfil basicamente de homens brancos? Cadê as mulheres negras? Os homens latino-americanos? Acho que o mundo é mais legal quanto mais diverso for. As discussões ficam mais equilibradas, mais justas, mas ricas. Apesar de Chris Rock ter tirado sarro, ele chegou na frente da plateia branca e falou que Hollywood é racista. Essa liberdade de chegar numa cerimônia daquele jeito, achei muito legal. O ponto que discordo é quando ele dá uma desmerecida no protesto. Mas as vozes de discordância são importantes pra gente ter um mundo mais equilibrado. É uma discussão que não se encerra no Oscar.

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Sunday, March 11, 2012

Lázaro Ramos é vendedor de passados em novo filme

MATHEUS MAGENTAENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
Alinne Moraes e Lázaro Ramos, protagonistas de 'O Vendedor de Passados', em Campinas
Foto: Karime Xavier - 8.fev.12/Folhapress

A especialidade de Vicente é criar passados para clientes que buscam biografias alternativas de si mesmos.

Para construir seu mais novo personagem no cinema, Lázaro Ramos acabou misturando o trabalho com sua história familiar. "Tenho poucas fotos da minha mãe, que se perderam quando ela morreu. Esse filme me incentivou a fazer, com uma prima, nossa árvore genealógica", diz.

O processo se tornou tão pessoal que até fotos de sua família serão usadas no filme "O Vendedor de Passados", de Lula Buarque de Hollanda (de "Casseta & Planeta - A Taça do Mundo é Nossa"), que deve estrear no final do ano.

O filme aborda o romance entre o vendedor de passados e uma cliente (Alinne Moraes) em busca de uma biografia em que seja criminosa. Ramos foi convidado há cinco anos para o projeto, que já recebeu 15 tratamentos de roteiro. "Tive de ler o livro [homônimo do angolano José Eduardo Agualusa, que inspirou o longa] de novo."

O papel se encaixa bem no atual momento da carreira dele, que despontou há uma década no cinema em "Madame Satã", de Karim Aïnouz, perfil do lendário bandido da Lapa carioca dos anos 1930, e hoje procura personagens mais contemporâneos, com "questões menos épicas".

"Como ator, acho dificílimo fazer um personagem contemporâneo. O que somos nós, como é que a gente conta a história que estamos vivendo? É muito mais fácil você fazer um filme de época. Você colocou a roupa antiga e construiu o personagem."

O ator de 33 anos, que começou a carreira no teatro, tem planos de dirigir um filme, mas o projeto caminha lentamente. "Fiz um argumento de duas páginas e mandei para um amigo que me respondeu com dez páginas de comentários. Ainda estou pensando nisso tudo."

Na seara televisiva, o programa criado por ele, "Espelho", estreia sua sétima temporada no dia 19, no Canal Brasil.

ADAPTAÇÃO
A obra de Agualusa traça um paralelo político entre o vendedor de passados e a história de Angola, que tenta se reconstruir após 27 anos de guerra civil.

Ao adaptar o volume, o diretor ignorou elementos surreais, como o narrador que é uma lagartixa, e transportou a trama amorosa para o Rio. "A gente tem muito 'favela movie'. Falta um filme no cinema brasileiro que se encontre com o público", diz ele.

O longa relaciona os passados forjados pelo protagonista a cirurgias plásticas e perfis em redes sociais na internet. "Um travesti pode ter uma necessidade física de mudar de sexo e, a partir daí, mostrar que tem um passado feminino, com fotos, histórias", afirma o diretor, imaginando um possível interessado nos serviços de Vicente.

Conhecida por papéis em novelas, como a tetraplégica Luciana de "Viver a Vida" (2009), Alinne Moraes vê relações do filme com seu último trabalho, "O Homem do Futuro" (2011).

"A gente falava exatamente sobre isso, sobre como, ao mudar um segundo, se pode mudar toda a história."

"Bem resolvida" com seu passado, Alinne Moraes diz que fez exercícios para se aproximar da personagem por não se identificar com ela. "Sempre comentei isso com minha mãe, que não queria mudar nada porque senão não seria quem sou hoje."

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Sunday, September 11, 2011

Entrevista: Lázaro Ramos defende a complexidade do personagem André em Insensato Coração

Em entrevista ao CORREIO, o ator fala sobre seu personagem e, ainda, sobre a expectativa de ser pai


Foto: Viviane Ramos, Lázaro Ramos e Valdeck Almeida de Jesus

 
Nilma Gonçalves
Redação CORREIO

nilma.goncalves@redebahia.com.br

Lázaro Ramos tem apenas 33 anos de idade. Mas, a considerar a maturidade que demonstra, parece ser mais velho. Ator, diretor de tea- tro, escritor e apresentador de TV, capaz de ir da comédia ao drama em dois tempos, esse baiano retado é um dos artistas mais talentosos e versáteis de sua geração. Além do mais, costuma usar a arte em prol de discussões úteis para a sociedade - como a questão da negritude -, seja quando apresenta o programa Espelho, na TV Brasil, ou dirigindo a peça Namíbia, Não!, em cartaz em Salvador, no teatro Martim Gonçalves. Chegou a ser considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009. No ar em Insensato Coração, como o mulherengo André, Lázaro não se deixa abater pelas críticas que recebe por não fazer exatamente o tipo galã que o papel (supostamente) exige. “A questão de padrão estético é uma questão ainda discutida no nosso país... Eu não construo o André apenas como um galã”, ressalta. Em entrevista ao CORREIO, o ator fala sobre seu personagem e, ainda, sobre a expectativa de ser pai.

André começou Insensato Coração extremamente mulherengo. Com o tempo, o romance com Carol (Camila Pitanga) parecia que ia despertar nele um lado mais romântico. Isso não aconteceu, mesmo tendo virado pai. Como enxerga esse comportamento?

O André é um personagem que tem várias questões. A principal é o medo de formar uma família por achar que não vai dar conta disso, pelo trauma que ele tem na relação com o pai. E o fato dele ficar com tantas mulheres é apenas defesa, por achar que não é hábil.

Na sua opinião, por que André é tão resistente a experiências afetivas?

Por achar que não é hábil. E é um personagem em que, eu acho que, os autores querem mostrar uma outra forma de constituir família. Principalmente porque o André inaugura um arquétipo de personagem que a gente ainda não viu em telenovela. Tanto que é difícil defini-lo, se ele é um cafajeste, se ele é excessivamente sincero, se ele é arrogante, se ele é traumatizado...

Por que a relação de André e Carol não deu certo?

Eu acho que o André pensou que não fosse dar conta de uma mulher tão independente quanto a Carol e uma mulher, que no meu ponto de vista como criador do personagem com os autores, despertou uma coisa que ele nunca sentiu na vida. Eu acho que ele é apaixonado por ela, mas não sabe como lidar com essa mulher e como lidar com o amor, que foi uma coisa que faltou na vida dele o tempo todo. É um sentimento novo pra ele, por incrível que pareça. Uma pessoa que não tem amor na sua família, pra experimentar isso fora de casa é sempre uma novidade e um motivo de conflito.

A bola da vez agora é Leila, que está disposta a conquistar o designer. Você acredita que ela terá chance?

Eu acho que a Leila tem chance com ele, sim. Principalmente porque ela é um espírito independente que nem ele. Na família dela, Leila não se parece com ninguém. Ela vai pra Londres pra saber o que ela quer de verdade na sua vida. Na maneira de se relacionar afetivamente, vai atrás do orgasmo. Isso é um comportamento diferenciado, principalmente em uma mulher da idade dela. Talvez isso faça com que apareça alguma sintonia entre ela e o André, essa identificação.

Leila não é muito jovem para André?

Amor tem idade? Ela já é maior de idade.

Sua mulher, Taís Araújo, não tem reclamado dessa pegação toda, não?

Não. Porque ela tem a mesma profissão que eu.

Muitos têm afirmado que você não teria o perfil de galã que pede um personagem como André. De que forma lida com essas críticas?

As críticas são naturais. A questão de padrão estético é ainda discutida no nosso país, e é natural que apareça um comentário como esse. A maneira como eu lido é focando no meu trabalho e não reduzindo o meu personagem a uma rubrica. Eu não construo o André apenas como um galã. Eu construo o André, que é um anti-herói, com características às vezes até incoerentes, porque é um cara absolutamente competente e podia ser humilde, mas não é. Ele é arrogante, é um cara que atrai as mulheres e podia escolher a que ele quer, mas tem essa dificuldade emocional de lidar com o assunto família, então, foge dela. Eu trabalho ele com a complexidade que o personagem tem.

Como consegue se dividir entre as gravações da novela, do programa Espelho e de seus outros projetos?

Essa novela é muito especial. Eu agradeço às pessoas com quem eu trabalho. A equipe de produção, direção e os autores, porque a gente tem uma rotina de gravação muito tranquila e com afetuosidade. Então, quando eu vou trabalhar, não tenho cansaço, tenho prazer. O meu programa Espelho, eu gravei todo ele em dezembro do ano passado. Agora, eu estou no processo de edição, e preciso ir uma vez por semana apenas na ilha de edição. E Namíbia, Não!, a peça de teatro que está em cartaz em Salvador, eu ensaiei nos meus intervalos de gravação, porque os autores se predispuseram a emprestar os seus horários aos meus. Então, é fácil. Quando você trabalha com o que você gosta, o trabalho não fica cansativo, é só prazer.

O programa Espelho é um fórum de discussões muito interessante para a TV brasileira. Acredita que deveria haver programas como esse na televisão aberta?

Eu acho que tem espaço sim, porque na TV fechada o Espelho já se mostrou um verdadeiro sucesso. O programa surgiu há seis anos pra ter apenas cinco programas. Eu mesmo achei que seria uma coisa episódica, que não teria mais como abordar esse tema, fazer essas entrevistas. E, de repente, eu já estou há seis anos com esse programa e com a segunda maior audiência do Canal Brasil.

Apresentar um programa é muito diferente de atuar?

É diferente porque eu não tenho a máscara do personagem pra me proteger. Quando eu faço as perguntas, são aquelas que eu realmente quero saber. Eu tenho uma ficha de perguntas, mas, na maioria das entrevistas, não uso, porque procuro abordar as pessoas com a minha curiosidade real e transformar tudo num bate-papo.

Você é um artista múltiplo. Além de atuar e ser apresentador, recentemente lançou um livro infantil e também enveredou pela direção teatral. De onde vem essa inquietude?

Acho que vem do Bando de Teatro Olodum. Durante os dez anos que eu tive atuando diariamente no grupo, o exercício que eu tinha era ser um ator, autor. Ou seja, um ator com opinião. E, ao mesmo tempo, porque no bando, quando não se tinha patrocínio, a gente fazia tudo. Então, no bando, eu fui da equipe de iluminação, da equipe de figurino, da produção... Esse foi o exercício que eu aprendi a fazer. O que me mobiliza é o desejo de me comunicar, e a linguagem que eu vou abordar é a que me parecer mais adequada, no momento.

Como foi o feedback do público com Namíbia, Não!? Pretende levar a peça para outros lugares, fora da Bahia?

Pra mim, Namíbia foi uma grata surpresa, porque a gente fez um espetáculo que tinha o desejo de divertir e provocar reflexão. Em vários momentos eu pensei que a parte reflexiva seria o mote do espetáculo, mas acho que o público da Bahia inclusive tem essa característica de compreender os assuntos que são debatidos na peça. E conseguiram ver o espetáculo com um olhar bem-humorado. Eu fiquei muito feliz com a recepção e foi maravilhoso ter o teatro lotado em todas as apresentações, que é uma coisa difícil hoje em dia. É a minha primeira direção de espetáculo adulto.

Podemos esperar ver Lázaro nos cinemas, em breve?

Com certeza. Tem dois filmes pra estrear. Um é o Amanhã Nunca Mais, do Tadeu Jungle, que provavelmente vai estrear no segundo semestre. E tem um filme que eu fiz em Portugal chamado O Grande Quilape, do Zezé Gamboa, que é um diretor angolano. Não sei se vai estrear este ano, mas é um filme que eu gostei muito de ter feito. Ano que vem eu acho que eu vou me dedicar um pouco ao cinema, porque já estou com saudade.

Agora, você vai acumular também o papel de pai. Como está a expectativa?

Eu estou uma pilha de nervos, mas muito feliz.

Você pretende ser daqueles pais que trocam fralda, colocam pra dormir, acordam no meio da madrugada? Ou acha que isso é tarefa pra mãe mesmo?

Não. Eu sou pai moderno. Tem que participar de tudo.
Fonte: Correio

Foto: Valdeck Almeida de Jesus

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Sunday, June 05, 2011

Entrevista: Lázaro Ramos defende a complexidade do personagem André em Insensato Coração

Em entrevista ao CORREIO, o ator fala sobre seu personagem e, ainda, sobre a expectativa de ser pai



Lázaro é ator, diretor, escritor e apresentador de TV



Foto: João Miguel Júnior/TV Globo


Nilma Gonçalves - Redação CORREIO
nilma.goncalves@redebahia.com.br

Lázaro Ramos tem apenas 33 anos de idade. Mas, a considerar a maturidade que demonstra, parece ser mais velho. Ator, diretor de tea- tro, escritor e apresentador de TV, capaz de ir da comédia ao drama em dois tempos, esse baiano retado é um dos artistas mais talentosos e versáteis de sua geração. Além do mais, costuma usar a arte em prol de discussões úteis para a sociedade - como a questão da negritude -, seja quando apresenta o programa Espelho, na TV Brasil, ou dirigindo a peça Namíbia, Não!, em cartaz em Salvador, no teatro Martim Gonçalves. Chegou a ser considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009. No ar em Insensato Coração, como o mulherengo André, Lázaro não se deixa abater pelas críticas que recebe por não fazer exatamente o tipo galã que o papel (supostamente) exige. “A questão de padrão estético é uma questão ainda discutida no nosso país... Eu não construo o André apenas como um galã”, ressalta. Em entrevista ao CORREIO, o ator fala sobre seu personagem e, ainda, sobre a expectativa de ser pai.

André começou Insensato Coração extremamente mulherengo. Com o tempo, o romance com Carol (Camila Pitanga) parecia que ia despertar nele um lado mais romântico. Isso não aconteceu, mesmo tendo virado pai. Como enxerga esse comportamento?

O André é um personagem que tem várias questões. A principal é o medo de formar uma família por achar que não vai dar conta disso, pelo trauma que ele tem na relação com o pai. E o fato dele ficar com tantas mulheres é apenas defesa, por achar que não é hábil.

Na sua opinião, por que André é tão resistente a experiências afetivas?

Por achar que não é hábil. E é um personagem em que, eu acho que, os autores querem mostrar uma outra forma de constituir família. Principalmente porque o André inaugura um arquétipo de personagem que a gente ainda não viu em telenovela. Tanto que é difícil defini-lo, se ele é um cafajeste, se ele é excessivamente sincero, se ele é arrogante, se ele é traumatizado...

Por que a relação de André e Carol não deu certo?

Eu acho que o André pensou que não fosse dar conta de uma mulher tão independente quanto a Carol e uma mulher, que no meu ponto de vista como criador do personagem com os autores, despertou uma coisa que ele nunca sentiu na vida. Eu acho que ele é apaixonado por ela, mas não sabe como lidar com essa mulher e como lidar com o amor, que foi uma coisa que faltou na vida dele o tempo todo. É um sentimento novo pra ele, por incrível que pareça. Uma pessoa que não tem amor na sua família, pra experimentar isso fora de casa é sempre uma novidade e um motivo de conflito.

A bola da vez agora é Leila, que está disposta a conquistar o designer. Você acredita que ela terá chance?

Eu acho que a Leila tem chance com ele, sim. Principalmente porque ela é um espírito independente que nem ele. Na família dela, Leila não se parece com ninguém. Ela vai pra Londres pra saber o que ela quer de verdade na sua vida. Na maneira de se relacionar afetivamente, vai atrás do orgasmo. Isso é um comportamento diferenciado, principalmente em uma mulher da idade dela. Talvez isso faça com que apareça alguma sintonia entre ela e o André, essa identificação.

Leila não é muito jovem para André?

Amor tem idade? Ela já é maior de idade.

Sua mulher, Taís Araújo, não tem reclamado dessa pegação toda, não?

Não. Porque ela tem a mesma profissão que eu.

Muitos têm afirmado que você não teria o perfil de galã que pede um personagem como André. De que forma lida com essas críticas?

As críticas são naturais. A questão de padrão estético é ainda discutida no nosso país, e é natural que apareça um comentário como esse. A maneira como eu lido é focando no meu trabalho e não reduzindo o meu personagem a uma rubrica. Eu não construo o André apenas como um galã. Eu construo o André, que é um anti-herói, com características às vezes até incoerentes, porque é um cara absolutamente competente e podia ser humilde, mas não é. Ele é arrogante, é um cara que atrai as mulheres e podia escolher a que ele quer, mas tem essa dificuldade emocional de lidar com o assunto família, então, foge dela. Eu trabalho ele com a complexidade que o personagem tem.

Como consegue se dividir entre as gravações da novela, do programa Espelho e de seus outros projetos?

Essa novela é muito especial. Eu agradeço às pessoas com quem eu trabalho. A equipe de produção, direção e os autores, porque a gente tem uma rotina de gravação muito tranquila e com afetuosidade. Então, quando eu vou trabalhar, não tenho cansaço, tenho prazer. O meu programa Espelho, eu gravei todo ele em dezembro do ano passado. Agora, eu estou no processo de edição, e preciso ir uma vez por semana apenas na ilha de edição. E Namíbia, Não!, a peça de teatro que está em cartaz em Salvador, eu ensaiei nos meus intervalos de gravação, porque os autores se predispuseram a emprestar os seus horários aos meus. Então, é fácil. Quando você trabalha com o que você gosta, o trabalho não fica cansativo, é só prazer.

O programa Espelho é um fórum de discussões muito interessante para a TV brasileira. Acredita que deveria haver programas como esse na televisão aberta?

Eu acho que tem espaço sim, porque na TV fechada o Espelho já se mostrou um verdadeiro sucesso. O programa surgiu há seis anos pra ter apenas cinco programas. Eu mesmo achei que seria uma coisa episódica, que não teria mais como abordar esse tema, fazer essas entrevistas. E, de repente, eu já estou há seis anos com esse programa e com a segunda maior audiência do Canal Brasil.

Apresentar um programa é muito diferente de atuar?

É diferente porque eu não tenho a máscara do personagem pra me proteger. Quando eu faço as perguntas, são aquelas que eu realmente quero saber. Eu tenho uma ficha de perguntas, mas, na maioria das entrevistas, não uso, porque procuro abordar as pessoas com a minha curiosidade real e transformar tudo num bate-papo.

Você é um artista múltiplo. Além de atuar e ser apresentador, recentemente lançou um livro infantil e também enveredou pela direção teatral. De onde vem essa inquietude?

Acho que vem do Bando de Teatro Olodum. Durante os dez anos que eu tive atuando diariamente no grupo, o exercício que eu tinha era ser um ator, autor. Ou seja, um ator com opinião. E, ao mesmo tempo, porque no bando, quando não se tinha patrocínio, a gente fazia tudo. Então, no bando, eu fui da equipe de iluminação, da equipe de figurino, da produção... Esse foi o exercício que eu aprendi a fazer. O que me mobiliza é o desejo de me comunicar, e a linguagem que eu vou abordar é a que me parecer mais adequada, no momento.

Como foi o feedback do público com Namíbia, Não!? Pretende levar a peça para outros lugares, fora da Bahia?

Pra mim, Namíbia foi uma grata surpresa, porque a gente fez um espetáculo que tinha o desejo de divertir e provocar reflexão. Em vários momentos eu pensei que a parte reflexiva seria o mote do espetáculo, mas acho que o público da Bahia inclusive tem essa característica de compreender os assuntos que são debatidos na peça. E conseguiram ver o espetáculo com um olhar bem-humorado. Eu fiquei muito feliz com a recepção e foi maravilhoso ter o teatro lotado em todas as apresentações, que é uma coisa difícil hoje em dia. É a minha primeira direção de espetáculo adulto.

Podemos esperar ver Lázaro nos cinemas, em breve?

Com certeza. Tem dois filmes pra estrear. Um é o Amanhã Nunca Mais, do Tadeu Jungle, que provavelmente vai estrear no segundo semestre. E tem um filme que eu fiz em Portugal chamado O Grande Quilape, do Zezé Gamboa, que é um diretor angolano. Não sei se vai estrear este ano, mas é um filme que eu gostei muito de ter feito. Ano que vem eu acho que eu vou me dedicar um pouco ao cinema, porque já estou com saudade.

Agora, você vai acumular também o papel de pai. Como está a expectativa?

Eu estou uma pilha de nervos, mas muito feliz.

Você pretende ser daqueles pais que trocam fralda, colocam pra dormir, acordam no meio da madrugada? Ou acha que isso é tarefa pra mãe mesmo?

Não. Eu sou pai moderno. Tem que participar de tudo.




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Wednesday, May 12, 2010

'Eu posso compor sonhos'

Entrevista com o ator e diretor Lázaro Ramos, descrito como alguém que 'traz uma capacidade de realização que nos faltou no tempo e no espaço'Lázaro Ramos, em Ó Pai Ó:'o teatro foi uma busca de uma identidade, de uma maior compreensão do mundo, de quem eu sou e de quem eu era.'

'Como ator, eu me apaixono pela proposta de uma outra pessoa e vou contando histórias. Como diretor, eu posso compor sonhos para as outras pessoas'. Hoje com 31 anos, Lázaro Ramos consagrou-se como um dos mais talentosos artistas dramáticos da sua geração, trabalhando no teatro, no cinema e na televisão. Sua atuação é de tal forma expressiva que a Época o considerou um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009. Em 2007, ele foi indicado ao Emmy de melhor ator pela participação na novela Cobras e Lagartos, e ao longo de sua carreira cênica foi premiado diversas vezes nacional e internacionalmente. Além de artista, atua em causas sociais e é embaixador da Unicef.

Na Época, o também ator Milton Gonçalves disse sobre ele: 'como falar de uma pessoa que, já num primeiro contato, deixa a gente num canto, só olhando, prestando atenção em como ele fala? De onde veio esse cara com uma fala mole, registro de linguagem cheio de pausas e um jeito dengoso de se expressar? De onde veio esse menino magrinho e cheio de ginga, um ar de protegido por todas as linhas de santos e uma confiança de quem sabe onde está se metendo? (...) Lázaro traz uma capacidade de realização que nos faltou no tempo e no espaço'.

Abaixo, o baiano fala à Capitu sobre não se poder reduzir o teatro à definições, sobre sua formação, sobre os problemas da criação artística fora do eixo Rio-São Paulo e sobre a mistura muitas vezes dita necessária de causa artística com causa social: 'a maneira que encontrei de lidar com isso é uma opção minha; tem pessoas que talvez contribuam de outro jeito'.

Teatro como Busca
O teatro é o lugar da liberdade. Quando você coloca uma regra, um estilo ou uma maneira de se relacionar com ele acaba sendo um pouco uma inverdade. Cada artista escolhe a sua maneira de se comunicar através do teatro. Tem gente que escolhe o humor. Tem gente que vai escolher o teatro de papéis diferentes cheios de improvisos no palco. A minha maneira de me relacionar com o teatro muito variável. Um artista como eu, que veio do Nordeste, um ator negro, que está numa fase onde a visibilidade é grande... acho que eu tenho que jogar a todo tempo com todas as maneiras de me comunicar. Às vezes, é necessário fazer uma coisa mais popular e, às vezes, é necessário fazer uma coisa mais alternativa. São diferentes maneiras de comunicação que mudam de acordo com o tempo que eu estiver vivendo. Para mim, o que eu penso ser mais bonito no teatro é a liberdade e a busca de algo que dialogue com o mundo. Meu anseio é este: conseguir dialogar com que o resto do mundo está dizendo.

'E eu não quero parar no tempo. Ontem eu me comunicava de um jeito, hoje eu me comunico de outro e amanhã, com certeza, quando eu tiver cinqüenta será diferente novamente. O teatro foi uma busca de uma identidade, de uma maior compreensão do mundo, de quem eu sou e de quem eu era.'

O por quê de ser ator ou atriz
'Eu não escolhi primeiramente ser ator, não. O teatro entrou na minha vida como um artifício para fugir da timidez, na época da escola, da primeira à quarta série, depois na sétima. No terceiro ano colegial, eu comecei a fazer curso, e aí eu também já fazia parte de grêmio estudantil. Era uma forma de eu me comunicar com os estudantes, com a direção da escola, para falar sobre a realidade da escola, pra gente falar de nossas questões de adolescente.

'A profissão veio já quando eu estava formado pelo Bando de Teatro do Olodum. O que eu queria era poder me dedicar a uma outra profissão e, se desse para continuar a fazer teatro, eu continuaria fazendo. Fui assim um profissional dividido durante dois anos... dois anos e pouco: eu fazia o curso técnico em Radiologia juntamente com o Teatro. Fui entrando muito naturalmente na profissão. Acho isso muito saudável: você buscar em si mesmo o por quê de querer ser ator ou atriz independente da fama e outras coisas.

'Eu acho que eu conseguiria fazer outras coisas, mas a profissão de ator é o que realmente me completa. Principalmente que, hoje em dia, eu venho conseguindo conciliá-la com outras atividades, por exemplo, dirigir, produzir, ou até mesmo o trabalho socialmente responsável que eu venho desenvolvendo recentemente como embaixador da Unicef. Tudo isso só foi possível por causa da minha profissão de ator e da visibilidade que essa profissão me deu.'

'Olha o corpo em cena!' + ator igual a autor
'No Anísio Teixeira [colégio no qual Lázaro fez o colegial], o professor tinha uma cisma muito grande com técnica vocal e a maneira de como andar no palco. Eu lembro disso até hoje! Ele dizia: 'olha a maneira como anda no palco, Lázaro!', 'olha a projeção do corpo em cena!'. No teatro mais popular, eles dão muito mais liberdade para a construção disso. No Bando, é aquela coisa do improviso: ator igual a autor. Ou seja: você trabalhar a sua opinião sobre aquele texto, texto que, normalmente, já foi montado várias vezes. Pela tendência ao improviso, esses grupos dão a você uma experiência de atuar e interpretar em qualquer universo que um diretor de teatro venha a dar a você. Eles trabalham com textos diversificados desde os clássicos como Dom Quixote, até Ó Pai Ó, assim como Sonho de uma Noite de Verão, Zumbi do Palmares. Essa diversidade fornece uma aptidão para atuar em qualquer universo que é raro que os atores tenham hoje em dia. Geralmente, você tem uma escola de interpretação que é seguida e que todos do grupo a seguem.

Personagens não-oficiais da história não-oficial
'Geralmente, como ator, eu me apaixono pela proposta de uma outra pessoa e vou contando histórias. Como diretor, eu posso compor sonhos para as outras pessoas. Por exemplo, na produção do Espelho [programa de entrevistas exibido no Canal Brasil, coordenado por Lázaro desde 2006], a satisfação maior que eu tenho é que a cada semana eu posso entrar num mundo diverso, propor uma nova discussão, contar uma história de maneira diferenciada.

'A gente já está no quinto ano de programa. Cada edição com uma identidade muito própria, com entrevistados surpreendentes. Sempre uma discussão diferente. Sempre com muita liberdade. A entrevista é sempre feita com as pessoas da maneira mais sincera possível. A minha proposta como diretor é mostrar universos que não são vistos, as histórias não contadas ainda. Os personagens não-oficiais que fazem parte da história não-oficial do Brasil. Eles também precisam ser retratados. É tanta coisa que ainda precisa ser retratada.'

Produção artística fora do eixo Rio-São Paulo
'Eu sempre tive o sonho de que na minha terra, a Bahia, assim como em outros lugares que estão afastados do eixo Rio-São Paulo, os artistas conseguissem se articular para sobreviver artisticamente por si próprios, sem muita dependência de sair para outros lugares.

'No Rio Grande do Sul, tem uns artistas que se juntaram, se reuniram nos anos 80 para fazer cinema, para produzir cinema urbano regional. E hoje em dia eles são um dos grandes produtores de cinema do País. Todo ano eles lançam um longa-metragem. Vários filmes: O homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara, Tolerância, etc. Eles conseguiram fazer cinema se articulando internamente. Eu gostaria muito que a Bahia também conseguisse fazer isso. Na Bahia, sempre foi difícil, continua sendo e sempre será. Mas a Bahia tem uma mão-de-obra artística fantástica. Tem a capacidade para realizar muitas coisas. Só falta mais interesse do setor privado, mais interesse do governo, a articulação, de uma maneira mais ampla, da própria classe artística, essas coisas. Essas são questões que afetam todo o Brasil, na verdade.'

A união de arte e causa social é opcional
'Usar a posição de artista para causas sociais é uma coisa opcional. Eu venho de uma formação de participação em grêmio estudantil, de uma vocação para a mobilização social. Isso é uma coisa que está presente na minha vida de forma muito natural [saiba aqui sobre um dos projetos de Lázaro, o Ler é Poder, que organiza bibliotecas comunitárias e distribui livros]. Mas eu acho que às vezes as pessoas confundem a arte e a mudança social. Lógico que a arte é um meio de mudança, ela constrói muitas mudanças. Mas tem muita mudança que só se torna efetivamente possível se houver a parceria com aqueles que são os responsáveis pela administração da sociedade, se se atuar de forma conjunta com os mecanismos, com as instituições governamentais, com o poder público, enfim. A maneira que eu encontrei de lidar com isso é uma opção minha e uma escolha minha decorrente do meu histórico. Tem pessoas que até, talvez, consigam contribuir de maneira diferente.'

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Tuesday, September 01, 2009

"O Bando é uma tatuagem em meu corpo"



O teatro está vazio. A luz baixinha cairia bem numa cena melancólica ou dramática, mas não é disso que se trata. Lázaro Ramos, 30, começa a falar com seus grandes olhos e mãos. Mas talvez de nada valha dizer isso, o mínimo que se pede de um ator é que seja expressivo. Então é preciso registrar que ele não demonstra a afetação ou estrelismo que, vá lá, poderia ter acumulado em 15 anos de bem-sucedida carreira. Em bom baianês, não tem a arrogância de que "se acha". Isso talvez por saber, "desde pequenininho, que não há sucesso nem fracasso permanente". É o que o faz político e centrado. Lázaro está morando no Rio de Janeiro e voltou a pisar as ladeiras do Pelourinho para gravar a segunda temporada de Ó Paí, Ó, que será exibida em novembro na Globo.

Também voltou ao Teatro Vila Velha, onde descobriu o Bando de Teatro Olodum, para homenagear os 45 do TVV e conversar com Muito, basicamente sobre tudo: teatro, cinema, televisão, Barack Obama, o projeto Ler é Poder (que espalha bibliotecas por Salvador) e o posto de embaixador do Unicef, que assumiu em julho. Só não perguntamos se ele voltou a namorar a atriz Taís Araújo, que aí já é demais. A sessão de fotos aconteceu no Pestana Convento do Carmo, onde o ator ficou hospedado.


Muito - O que você ainda leva do Bando de Teatro Olodum?

Lázaro Ramos - Muito da minha formação artística, de personalidade e de valores. Já fazia teatro no Anísio Teixeira, com o professor Albérico, mas quando entrei no Bando de Teatro Olodum, aos 15 anos, encontrei um novo mundo, uma nova maneira de pensar teatro. Sou muito Bando de Teatro Olodum quando estou atuando. Os valores todos que aprendi com o Bando ficaram como tatuagem no meu corpo. Soube aproveitar aquilo que de experiência profissional o Bando me proporcionou, como as leituras dramáticas que fiz aqui no Vila Velha e as aulas de teatro, dança, canto, música. E aprendi a conviver com as diferenças também. Grupo de teatro é isso.


Muito - Li você dizendo como foi importante se reconhecer no Bando, não só fisicamente, mas também em termos de ideais e propostas. Como foi a passagem para a televisão? Essa identificação não foi tão imediata, imagino.


Lázaro - Continua sendo o Bando também, aprender a lidar com o diferente. Outros valores acabaram entrando em minha vida. A convivência com João Falcão, por exemplo, me deu o aprendizado do universo lúdico, que é uma coisa que eu não tinha exercitado. A própria televisão é o reflexo da realidade artística do País, é importante saber lidar com ela. Se você consegue usá-la em benefício daquilo que você acredita, é muito útil. Não teria a confiança de um canal, como o Canal Brasil, para ter um programa que dirijo e proponho se não fosse a visibilidade e credibilidade que construí com a minha carreira. E digo que começada mais até no cinema que na televisão. A televisão veio depois. O cinema já é diferente do teatro, é outra convivência, outro exercício.


Muito - Você aprendeu a transitar por essas linguagens?

Lázaro - Até hoje fico mais confortável no teatro. De vez em quando, tenho a sensação de que o que eu sei fazer mesmo é teatro; o resto, estou enrolando as pessoas (risos). Fico muito mais nervoso quando vou fazer um filme ou fazer televisão, são mecanismos que não tenho muito controle. No palco, tem o conforto de estar compartilhando com as pessoas. Mas acabei tendo de aprender a lidar... É como sexo. Sexo para ser bom não precisa ser igual todo dia. Cada um tem uma dinâmica, um tempo diferente, uma posição diferente (risos). É aprender a lidar com os prazeres distintos. A televisão era um lugar que eu achava que nunca teria prazer. Sempre tive medo desse processo industrializado, de fazer rápido, 'tem de render, só vai passar uma vez, então se ficou mais ou menos, já tá bom'. Eu pensava isso. Mas na verdade dá para encontrar prazer em acelerar o processo de criação e dá para fazer bem também.


Muito - Houve alguma resistência em levar Ó Paí, Ó para a televisão?

Lázaro - As pessoas não falam esse tipo de coisa comigo, porque sempre falo do Bando com muita paixão. Mas acho natural que critiquem. A grande vantagem de trabalhar com arte é que você não precisa defender uma verdade absoluta. É bom criar debate. Imagine fazer um trabalho e as pessoas só falarem 'ah, legal, parabéns', e isso não criar uma reflexão. E é importante a gente se avaliar também.


Muito - E como você avaliou a primeira temporada de Ó, Paí, Ó?

Lázaro - O mais importante foi mostrar esses atores que eu tanto admiro num veículo popular como a TV. Ver as pessoas elogiando os atores do Bando. Pela primeira vez na história da televisão brasileira um grupo de teatro que não é do eixo Rio-São Paulo foi para a televisão com uma obra baseada na sua obra de teatro. Isso é sensacional. Mais uma coisa: a gente poucas vezes vê um elenco todo de negros contanto uma história na TV. Em relação à dramaturgia, algumas histórias saíram das discussões habituais do Bando. O primeiro episódio discutia pirataria, por exemplo... Mas isso vem das parcerias que aparecem e são necessárias para viabilizar o projeto.


Muito - Você já disse que quer dirigir um filme. Acredita que essa retomada do cinema brasileiro já tem uma identidade?

Lázaro - É uma identidade em formação. Principalmente porque o público dá umas rasteiras na gente, né? Se você for ver, começou com Carlota Joaquina, e aí veio um monte de filme histórico. Depois foi a violência urbana. Cidade de Deus, Quase Dois Irmãos... Daqui a pouco, biografia. Cazuza, Dois Filhos de Francisco. Agora é comédia. Se eu Fosse Você 2, A Mulher Invisível... Mas o mais positivo é que não foram só os medalhões que continuaram a fazer cinema. Apareceu uma geração nova, como Karim Aïznouz (Madame Satã), Sérgio Machado (Cidade Baixa), Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus).


Muito - E que cinema você quer fazer?

Lázaro - Não sei, é difícil... Por eu ter uma formação tão diversa como ator, acho que meu cinema seria diverso. O primeiro filme não teria nada a ver com o segundo, que não teria nada a ver com o terceiro...


Muito - Já tem roteiro? As filmagens serão aqui em Salvador?

Lázaro - Comecei um roteiro, desisti, deixei para ser o segundo filme, aí comecei a trabalhar um monte como ator e agora está quieto (risos). Recebi alguns convites para atuar que foram mais sedutores e possíveis no momento. Mas penso em filmar aqui, sim. Todas as histórias que penso passam-se aqui em Salvador.


Muito - Esses convites que você recebeu são para novela, cinema?

Lázaro - Foi assim: acabei Duas Caras e aí Ó Paí, Ó foi para a TV. Tinha de fazer. Depois passei dois meses só estudando. Aí teve o (filme) Amanhã Nunca Mais, que gravei em fevereiro e março. Em maio, comecei a gravar Decamerão, que é com o parceiro Jorge Furtado. Tudo que ele faz eu faço (risos). Outro dia ele falou no jornal que eu sou o ator-fetiche dele. Na verdade, sou alter-ego, ele sou eu (risos). E agora de novo Ó Paí, Ó. Novela, por enquanto, não vou fazer. Acertei de deixar as pessoas sentirem saudade de mim.


Muito - Você se envergonha de algum trabalho que fez? Consegue se assistir?

Lázaro - Tenho muito orgulho dos trabalhos que fiz. Mas sempre que me assisto vejo os meus defeitos. Penso: 'Ah, por que falei assim?', 'Por que construí o personagem dessa maneira?'. Ao mesmo tempo, meus defeitos e falhas fazem tão parte de mim, do meu trabalho, que não chega a ser um grande incômodo. Claro que penso sempre que posso fazer melhor, mas mostrar minha falibilidade também é muito bom.


Muito - No começo deste ano, você foi estudar em Nova York. Pensa em seguir carreira internacional?

Lázaro - Cheguei a ter um agente lá fora, mas comecei a achar que meu país estava me tratando melhor (risos). Não me identifiquei com os personagens que me convidaram para fazer. Se uma trajetória internacional vier de uma maneira digna, claro que quero. Mas me interesso bem mais pelo cinema feito na América Latina. Sou fascinado pelos filmes argentinos.


Muito - E qual é o seu critério para escolher personagens?

Lázaro - Nenhum. O critério é o do momento, do sentimento. Geralmente sei o que não quero fazer, ou então digo: 'Ah, mas isso aqui dá pra fazer, é importante passar por isso agora'. É muito subjetivo... Por exemplo, deixei meu amigo Sérgio Machado na mão, não participei de Quincas, por que foi na mesma época do Amanhã Nunca Mais. Trabalhar com Sérgio seria um prazer, é uma história que eu vejo ele construindo há muito tempo, mas achei que era mais importante exercitar o Amanhã Nunca Mais, que era uma história que eu nunca tinha contado, com um personagem mais urbano.


Muito - E não tem projetos para teatro?

Lázaro - A saudade do teatro é eterna e constante. Mas não tenho nenhum plano imediato.


Muito - Como é sua relação com a crítica? Você costuma receber retornos tão elogiosos dos seus trabalhos...

Lázaro - Todo mundo fica feliz de receber um estímulo, um elogio, mas procuro não me deslumbrar. Aprendi desde pequenininho que não há sucesso nem fracasso permanente. Então, é bom estar consciente dos seus defeitos e de que essa é uma carreira muito difícil. Há espaço para poucos e os talentos são muitos. Então, o trabalho não acaba quando sai a crítica.


Muito - Seu personagem da novela Duas Caras acabou se envolvendo com política. Esse é um assunto que te interessa?

Lázaro - Política partidária, não. Mesmo porque a fidelidade partidária nem existe, né? As pessoas vão mudando de lado de acordo com conveniências...
Já recebi convites para participar de campanhas políticas e nunca aceitei. Agora a política do pensar a sociedade, os valores, me interessa, claro.


Muito - Mas acredita que ator deve se posicionar sobre tudo? No ano passado, você escreveu um artigo para A TARDE falando sobre a violência na Federação.

Lázaro - Acho que é algo totalmente individual. Primeiro que o autor não é especialista em tudo. Tem esse equívoco... Às vezes me ligam para falar do cabelo de não sei quem (risos).


Muito - Por estar nessa posição de destaque, você se sente obrigado a falar sobre determinados temas?

Lázaro - Não há obrigação externa, nem me obrigo a isso. Só falo o que quero e quando acho que posso ser útil. Claro que por vir de uma realidade como a que eu venho, de um bairro de classe média-baixa, e de um grupo como o Bando, que tem um pensamento político associado a um pensamento artístico, procuro me envolver em coisas que acredito. Aceitar ser embaixador do Unicef vem um pouco disso. Há dois anos e meio estou me relacionando com o Unicef e sempre recebo relatórios mostrando a situação de crianças e adolescentes. E aí você vai vendo o tamanho do problema. Se você vir a quantidade de jovens que sofrem violência em casa e se imaginar que muitos casos nem chegam a ser denunciados, dá um desespero, porque de alguma maneira represento esse órgão para alertar a sociedade.


Muito - No artigo, você falava sobre o toque de recolher na Federação. Qual foi sua sensação agora na volta?

Lázaro - Lá no meu bairro não está acontecendo mais isso. Uma coisa que tem me preocupado muito agora, e que de alguma maneira passa pela violência, é o consumo do crack. Andando no Pelourinho, toda hora chega alguém pra falar comigo, inclusive consumidores de crack. Eles falam: 'Me ajude a sair'. Imagine... Eu digo: 'Mas por que você está usando isso?'. E eles dizem que não conseguem largar. Fiz agora uma campanha em Porto Alegre chamada Crack nem pensar. É uma droga barata, que vicia muito rápido... No Rio não tem tanto. Para os traficantes, é melhor vender cocaína, que é mais cara.


Muito - Muita gente acredita que uma das maneiras de reduzir a violência seria liberar a venda de drogas. Você é a favor?

Lázaro - Taí uma coisa que eu não sei responder (risos). O que sei é que não adianta ter uma medida isolada. Ter isso e não ter um aumento do aceso à educação, um maior número de empregos, acesso ao lazer... Mas ficarei atento a essa questão.


Muito - Já recebeu convite para levar Espelho, seu programa no Canal Brasil, para a TV aberta?

Lázaro - Adoraria levar! O Espelho tem um formato muito interessante. Fazemos um programa comprometido com a discussão do valor da diversidade e conseguimos fazer isso de uma maneira que une reflexão e entretenimento. Seria muito legal ir para a TV aberta. Mas ao mesmo tempo, por ser no Canal Brasil, tenho mais liberdade e não tenho uma expectativa tão grande de audiência. Ainda assim, o Espelho pode se gabar de ser uma das maiores audiências do canal.


Muito - Você esteve na posse de Obama. Depois dessa comoção inicial, acredita que ele vá marcar diferença politicamente?

Lázaro - Já está marcando. Já foi uma grande diferença um país como os Estados Unidos ter um homem desse no poder. Não só pela cor dele, mas pelos seus posicionamentos, pelo exemplo de família que ele tem. Claro que pode ser que ele erre, em algum momento vai errar, é natural.


Muito - Daí é inevitável perguntar sua opinião sobre políticas afirmativas, cotas...

Lázaro - Sou a favor, em parceria com outras medidas, como melhorar a educação básica. O País precisa potencializar seus talentos. Se você for pensar, de alguma maneira, eu sou fruto de uma cota, que é o Bando de Teatro Olodum. Potencializei meu talento aqui. E aí depois as pessoas admiram, elogiam... Acho que é importante tornar a universidade mais colorida (risos). Até para a gente discutir a questão da raça, do que é ser negro. A única verdade absoluta que existe nessa história é que educação tem de ser prioridade. Tem de melhorar a qualidade da educação, estimular a leitura.


Muito - O seu projeto, Ler é Poder, cria bibliotecas públicas em bairros populares de Salvador. Dá para acompanhar do Rio?

Lázaro - A tendência é que eu me afaste, porque quero que outras pessoas abracem a causa. Não quero que seja 'o projeto do Lázaro Ramos'. Acompanho, na medida do possível, minha prima é quem coordena. Hoje o projeto não se resume à questão das bibliotecas, porque várias pessoas procuraram a gente dizendo 'olha, Salvador tem mais de 100 bibliotecas comunitárias'. Precisamos estimular as pessoas a frequentarem esses espaços e mostrar como ler é importante para adquirir conhecimento e dar independência às pessoas.


Muito - Você tem religião?

Lázaro - Tem uma parte da minha família que é de candomblé, e gosto muito, mas ao mesmo tempo fiz primeira comunhão, tenho uma relação com o catolicismo também. Tem umas coisas do budismo que admiro... Minha religião é o respeito à religião dos outros, pronto.


Muito - Onde é sua casa? Sua Passárgada?

Lázaro - Caramba... O mundo (risos...).


Texto: TATIANA MENDONÇA tmendonca@grupoatarde.com.br
Fotos: TIADO TEIXEIRA ttxphoto@gmail.com
Produção de foto MARCO GRAMACHO marcogramacho@grupoatarde.com.br

Fonte: Revista Muito n° 74, edição de domingo, 30 de agosto de 2009.

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“Aqui é como se todo mundo fosse meu primo”


Para ficar mais perto das locações de Ó Paí Ó, Lázaro Ramos preferiu hospedar-se desta vez no luxuoso Convento do Carmo (antes ficava numa casa alugada). Assim pode ir gravar a pé, matando as saudades do Pelourinho e respondendo aos muitos cumprimentos dos passantes. “Aqui na Bahia é como se todo mundo fosse meu primo”, ele conta, rindo. “Às vezes eu fico um tempão me perguntando: mas de onde é que eu conheço esse cara?”


Foi no hotel que ele recebeu nossa equipe para fazer as fotos que acompanham a entrevista publicada na Muito#74, que circula neste domingo. Tinha acabado de tomar café, chegou vestindo uma blusa do Ilê Aiyê e uma bermuda folgada, como um baiano típico. Entre uma foto e outra conta que as gravações da série vão até o começo de setembro (mais precisamente no dia 9), faz graça dos DVDs piratas de Ó Paí ó que se espalharam nos camelôs e diz que sente inveja de Luiz Miranda, que conseguiu ficar morando aqui. “É meu sonho, né”. Ele adianta que Luiz está no elenco desta temporada da série, além do também baiano Daniel Boaventura.


O fotógrafo pede alegria. “Vamo lá, gente, me conta aí uma piada”, ele retruca (como se precisasse, tão confortável fica em frente à câmera). Em mais de uma hora de fotos, mantém a disposição e o bom-humor. Fala sobre o acidente com Felipe Massa, a posse de Obama (ele estava nos EUA e foi assistir ao grande evento) e pede notícias sobre os úlitmos escândalos no Congresso Nacional – Sarney, sempre Sarney.


“Vocês vão me odiar se eu perguntar que horas são?”. Era quase meio-dia, à 1h ele tinha que virar o cantor Roque. O trabalho já estava mesmo encerrado. Confira alguns cliques que ficaram de fora da revista (foto de Thiago Teixeira).


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